Raquel Azevedo *
A peça “Ex”, escrita e dirigida por Marius von Mayenburg, estreou em 12 de março na Schaubühne, na Lehniner Platz, em Berlim. Este drama contemporâneo explora as complexidades das relações humanas, destacando as tensões entre classes sociais e a confiança dentro de um casamento. O elenco principal é composto por Eva Meckbach, Sebastian Schwarz e Marie Burchard, que retoma ao Schaubühne com este papel.

A narrativa centra-se em Daniel, um arquiteto de sucesso, e sua esposa Sibylle, uma médica igualmente bem-sucedida. A rotina do casal é interrompida pela chegada inesperada de Franziska, ex-namorada de Daniel, que busca abrigo após uma separação recente. A presença de Franziska desencadeia uma série de questionamentos sobre a dinâmica do relacionamento de Daniel e Sibylle, revelando camadas de ressentimento, segredos e diferenças sociais que haviam sido ignoradas até então.
Marie Buchard interpreta Sibylle com uma intensidade que captura a dualidade de uma mulher dividida entre a carreira e as expectativas familiares. Sua atuação transmite a frustração de uma profissional dedicada que lida com a ausência emocional do marido e as pressões de ser mãe. Eva Meckbach consegue equilibrar momentos de vulnerabilidade e força, oferecendo ao público uma personagem tridimensional que luta para manter o controle em meio ao caos emocional que se instala.
Sebastian Schwarz dá vida a Daniel, cuja aparente confiança esconde inseguranças profundas. Schwarz navega habilmente pelas nuances de um homem que tenta conciliar as expectativas profissionais com as pessoais, enquanto enfrenta os fantasmas do passado personificados por Franziska. Sua química com Meckbach é palpável, especialmente nas cenas de confronto, onde a tensão do casal atinge picos dramáticos que mantêm o público envolvido.

Eva Meckbach, no papel de Franziska, traz uma energia disruptiva ao palco. Sua personagem, menos educada e de uma classe social diferente, serve como catalisadora para expor as fissuras no casamento de Daniel e interpreta Franziska com uma autenticidade que desafia as convenções sociais e provoca reflexões sobre os preconceitos e barreiras que ainda existem na sociedade contemporânea.
A encenação de Mayenburg complementa a cenografia e figurinos de Nina Wetzel, que utiliza espaços minimalistas para enfatizar a claustrofobia emocional dos personagens. A música de Nils Ostendorf e o vídeo de Sébastien Dupouey adicionam camadas sensoriais que enriquecem a experiência teatral, criando uma atmosfera que oscila entre o realismo e o abstrato.
“Ex” não é apenas uma exploração das dinâmicas conjugais, mas também uma crítica às divisões de classe que persistem sob a superfície das interações cotidianas. A peça questiona se o amor e a paixão são suficientes para superar as barreiras sociais e até que ponto a confiança pode ser mantida em um relacionamento onde segredos e ressentimentos são enterrados, mas nunca esquecidos.

A recepção da crítica tem sido positiva, com elogios direcionados às performances intensas e à direção precisa de Mayenburg. A peça convida o público a refletir sobre suas próprias relações e os preconceitos que podem influenciá-las, tornando “Ex” uma obra relevante e provocadora no cenário teatral contemporâneo.
Em suma, “Ex” é uma peça que desafia e instiga, oferecendo uma visão penetrante das complexidades humanas através de performances notáveis de Eva Meckbach, Sebastian Schwarz e Marie Burchard. A produção destaca-se como um testemunho do poder do teatro em explorar e expor as intricadas camadas das relações pessoais e sociais.
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