Após anos de constantes mudanças de proprietários e ameaça de fechamento, os trabalhadores assumem o controle da conhecida fábrica de vidro francesa. Torna-se uma cooperativa e aspira a ser um modelo diante da desindustrialização. Leia o artigo do El Salto Diario, publicado pela Rede REAS.
Os famosos copos e pratos Duralex são produzidos há já algumas semanas por uma cooperativa. Os trabalhadores da lendária fábrica de vidro francesa assumiram o controle do grupo após a decisão judicial de 26 de Julho de convertê-lo em uma sociedade cooperativa e participativa (SCOP). Os seus colaboradores, e agora também acionistas, confiam que esta reconversão irá pôr fim aos problemas económicos, bem como às constantes mudanças de proprietários nos últimos anos. E servir de modelo diante da ameaça da desindustrialização.
A maior parte dos 227 funcionários desta fábrica em Chapelle-Saint-Mesmin respira aliviada após a decisão do Tribunal de Orléans, no centro de França. “O projecto cooperativo não traz nenhum prejuízo social. Servirá também para aumentar os salários quando os lucros o permitirem”, explica ao El Salto Suliman el Moussaoui, delegado geral do sindicato CFDT na Duralex e um dos promotores da conversão da empresa em cooperativa.
[Na foto, François Bonneau, presidente da Região Centro-Val de Loire, Philippe Dorge, do grupo La Poste, François Marciano, diretor da SCOP Duralex visitam a fábrica Duralex na companhia de colaboradores da SCOP e Serge Grouard, presidente da Orléans Métropole (Foto da Région Centre-Val de Loire)]
Quando o proprietário anterior declarou a falência da Duralex, duas pequenas empresas do sector vidreiro se interessaram. Um deles queria cortar cerca de 50 empregos, enquanto o outro queria cortar perto de 100. Estes cortes apenas convenceram o diretor-geral a aderir ao movimento cooperativo, apoiado pela maioria dos trabalhadores.
“Mesmo tendo um faturamento mais do que adequado, todos os anos os acionistas arrecadavam sete milhões. Agora esse dinheiro será usado para investir ou irá para o bolso dos funcionários”, explica El Moussaoui.
“Numa dessas reuniões, um dos potenciais compradores disse-lhe que tinham de baixar os salários das empresas de embalagem, uma vez que realizavam trabalhos simples e tinham de receber o salário mínimo. Essas palavras marcaram o diretor-geral e começamos a preparar o projeto SCOP”, lembra El Moussaoui, que trabalha na fábrica há 17 anos.
Os benefícios “vão para o bolso dos funcionários”
Os seus colaboradores confiam que a transformação em cooperativa representará um ponto de viragem na trajetória de declínio dos últimos anos. Tanto em 2017 como em 2020, a empresa enfrentou processos de liquidação judicial. Há quatro anos foi adquirida pelo grupo dono da marca Pyrex, que não conseguiu catapultá-la. A usina praticamente parou de operar durante cinco meses, no outono e inverno de 2022 devido à crise energética. A isto somam-se as dificuldades do sector do vidro em França, onde as vendas diminuíram 19% em 2023 face ao ano anterior.
Apesar de ter recebido uma ajuda de 15 milhões de euros do Estado francês, a Duralex fechou o exercício do ano passado com um volume de negócios de 24,6 milhões, ou seja, menos 6,4 milhões que no ano anterior. Sofreu perdas de 12 milhões. “Mesmo tendo um faturamento mais do que adequado, todos os anos os acionistas arrecadavam sete milhões. Agora esse dinheiro será usado para investir ou irá para o bolso dos funcionários”, afirma El Moussaoui. Este maquinista lembra o cansaço dos trabalhadores com os diferentes proprietários: “Fizeram-nos lindas promessas, mas depois deixaram a fábrica meio abandonada”.
Apoio dos trabalhadores e das autoridades locais
O Tribunal de Orleans optou pela conversão em cooperativa graças ao apoio das autoridades locais. A região Centro-Val de Loire, liderada pelo Partido Socialista, concedeu um empréstimo de um milhão de euros e contribuiu para a recapitalização do grupo, enquanto a Câmara Municipal de Orléans, nas mãos da direita republicana, adquiriu os terrenos da fábrica. Este os arrendará à cooperativa até que possa adquiri-los. “Fala-se muito em deslocalizar e trazer empresas para o território, mas primeiro temos de manter as que já estão aqui”, disse o socialista François Bonneau, presidente do executivo regional.
Segundo a economista Maryline Filippi, especialista em Economia Social e Solidária, as cooperativas “normalmente caracterizam-se por durarem mais do que as empresas convencionais e por despedirem muito menos os seus trabalhadores”. Isto torna-os um modelo interessante para as autoridades locais, especialmente nos territórios afectados pela desindustrialização. “Quando grupos mundialmente conhecidos como a Duralex optam por este modelo, isso significa que a economia pode desenvolver-se de uma forma diferente”, acrescenta este professor da Universidade de Bordéus e da AgroParis Tech.
“Combinamos com a administração em agir com transparência, porque até agora os proprietários faziam operações de tesouraria e disfarçavam os resultados”, explica Da Silva.
Dos 227 funcionários, cerca de 140 deles já se tornaram proprietários do capital da cooperativa. Cada um deles investiu cerca de 500 euros – alguns investiram mais dinheiro – na compra de ações. “Propusemos várias soluções, como o pagamento em várias prestações ou que esse valor venha do décimo terceiro pagamento ou do subsídio de verão”, explica Vasco da Silva, secretário da comissão social.
A partir de agora, todos esses trabalhadores-cooperadores poderão eleger o conselho de administração e o plano de actividades. “Combinamos com a administração em agir com transparência, porque até agora os proprietários faziam operações de tesouraria e disfarçavam os resultados”, explica Da Silva. Para este operador luso francês de um dos fornos, esta democratização da vida empresarial tem uma vantagem óbvia: os trabalhadores determinarão as necessidades e os investimentos. “Como nos últimos anos geriam a fábrica à distância, investiam onde não era necessário e não davam dinheiro onde precisávamos”, sustenta.
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