Por Joana Tomás Pereira *
Deixou de ser o filme de terror que anda lá por fora, que tanto nos tem vindo assustar, para passar a uma realidade. Aqui estamos, 1 positivo com sintomas, 1 negativo e 1 à espera do resultado.
Como este vírus transformou os meus dias desde que passou a fazer parte da família:
– controlar os níveis de ansiedade e medo desde que os miúdos tiveram o primeiro contato com 1 positivo até aos primeiros sintomas
– marcar o teste, 2 dias para o fazer, 2 dias para ter o resultado- como os sintomas têm surgido a cada um em dias diferentes, os testes também são marcados com intervalos
– avisar as escolas
– como estou em teletrabalho não existiu interferência directa com a empresa. O que poupou aqui uma série de atribulações com colegas, famílias de colegas, etc.
– vivemos à quase 10 dias neste impasse de positivos ou negativos
– flashs do que nos foi bombardeado sobre a gravidade, em alguns casos, dos efeitos deste vírus, não deixam de nos atormentar
– perguntas como, “mãe o M vai morrer? tu vais morrer? eu vou morrer? foram respondidas, não, não vamos morrer porque estamos com sintomas ligeiros (mas desconfortáveis) e tudo vai passar”.
– esquematizar uma logística por não poder sair de casa para fazer as rotinas diárias, como ir às compras, tem sido a aprendizagem de saber pedir e observar a disponibilidade daqueles que prontamente se disponibilizam ajudar.
– telefonemas dos delegados de saúde, não muito fáceis, pois percebe-se o cansaço e desgaste em que se encontram. Fazem as mesmas perguntas vezes sem conta, para que nada falhe. Pois a decisão entre enviar uma turma inteira para casa ou só uma parte, é de elevada responsabilidade.
Com tudo isto e muito mais nas entrelinhas, sinto-me em piloto automático, a viver um segundo de cada vez, aguardar pacificamente que tudo passe aqui por casa, enquanto lá fora o caos é visível. Quando o assunto do momento passa a fazer parte da nossa vida, todas as teorias e especulações desfazem-se e a realidade é a nossa realidade e não aquilo que se passa ou passou com os outros.
Tem sido fácil? Não! Mas permite-me observar uma vez mais o quanto os nossos actos podem ter implicações enormes na vida dos outros. É uma corrente sem fim… por isso apelo a que se resguardem nos contatos mais íntimos (máscara). É fora da escola e dos trabalhos que estamos a “contaminar” os outros. Sei que grande parte de nós vai passar por isto, mas que seja com espaço de tempo, para que os serviços públicos que nos podem ajudar não desmoronem.
Parte de mim agradece por estar a viver esta situação, pois abomino teorias sem base na experiência. O medo vai desaparecendo e percebo ainda melhor o quanto somos absolutamente frágeis e fortes ao mesmo tempo. Somos força da natureza, somos muito mais do que aquilo que pensamos quando estamos envolvidos pelo terror mediático.
Protejam-nos sem radicalismo, mas com maturidade e respeito pelo próximo”
escrevecomigo.pt
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* (Nota do editor: a Joana Tomás Pereira escreve artigos de opinião para o Diário 560 quando lhe apetece. Não insistam por mais!)