Creio que o leitor saberá valorizar algumas breves considerações sobre esta Carta Aberta que se refere, como um prelúdio, ao curso bi-universitário “Introdução à Administração e Gestão Cooperativa” patrocinado e promovido pela Universidade Nacional de Formosa (UNaF) e pela Universidade Nacional do Nordeste (UNNE).
Algumas reflexões sugeridas pelo Dr. Claudio A. Urio, presidente da Federação de Cooperativas de Serviços da Província de Buenos Aires (FECOOSER), constituem sem dúvida, como ele mesmo diz, “expressar o meu total apoio e felicitações aos organizadores”.
[Nota do Editor: A FECOOSER presta assessoria técnica e jurídica a pelo menos 50 pequenas e médias cooperativas de serviços públicos, como electricidade, água e telefone naquela província platina.]
Contudo, também realiza uma análise substancial e crítica da actuação de muitos líderes cooperativos, críticas e autocríticas que são muito necessárias e urgentes, aliás, como afirma: “precisamos de líderes, como dizemos no campo, com os pés na lama, assentados na realidade de cada comunidade e de cada cooperativa, fazendo e não dizendo o que fazer, cumprindo com ações o que é proclamado com palavras.”
Esta análise severa tem grande valor reflexivo e é uma contribuição para o debate sincero que busca e encontra os mecanismos e a vontade necessária para um cooperativismo mais ativo, mais transformador, mais participativo, com vocação de construção de poder político cooperativo, sem o qual não é possível influenciar as actuais circunstâncias de deficiência moral e ética que clamam os povos argentino e latino-americano. Sem dúvida, uma contribuição positiva:
“
Prezados, Tendo tomado conhecimento do curso “Introdução à Administração e Gestão Cooperativa” destinado a empresários, estudantes e qualquer pessoa interessada em desenvolver competências básicas necessárias para orientar as atividades económicas e sociais de uma cooperativa, não posso deixar de expressar o meu total apoio e parabéns aos organizadores do mesmo.
Dr. Claudio Urio, da FECOOSER, Argentina.
Já há algum tempo conversamos com o professor Lic. José Yorg, e também tive a oportunidade de conversar com a professora Ana María Ramírez Zarza sobre diferentes questões do cooperativismo.
Neste sentido, devo afirmar que o sector se encontra numa crise de liderança – situação que denuncio há algum tempo – e é necessária uma revisão global das actuais tácticas e estratégias para termos um cooperativismo real, eficaz, e não de discurso, mas de acção e de certos factos com resultados concretos.
Temos muitos líderes de “púlpito e palco” e precisamos de líderes, como dizemos no terreno, “com os pés na lama”, alicerçados na realidade de cada comunidade e de cada cooperativa, fazendo e não dizendo o que fazer, cumprindo com ações o que eles querem é proclamado com a palavra.
E para isso é essencial, como aponta Yorg, “educar uma realidade humana e ética diferente da atual” onde “a abordagem cooperativa proposta se baseie numa postura crítica, estabelecendo um critério político que defina a orientação do ensino do cooperativismo, com a visão da multidimensionalidade, da gradualidade e da integralidade, que dá origem a uma relação construtiva de produção de conhecimento.”
É então necessária uma formação séria e real, baseada não numa doutrina vazia ou bibliotecária, mas repleta de realidades concretas, confrontando criticamente o status quo prevalecente e propondo “outro sistema cooperativo”, com impacto na realidade social de cada território e formar pessoas qualificadas para a função de “ser cooperativo”.
É aqui que este curso de formação de conhecimentos em administração e gestão de empresas cooperativas se torna relevante.
Eixo ou Núcleo Central Cooperativo Os responsáveis pela proposta estabelecem “eixos ou núcleos centrais cooperativos” sobre os quais girará o desenvolvimento da proposta:
– Aspectos histórico-doutrinários das cooperativas; – Aspectos organizacionais e institucionais da empresa cooperativa; – Aspectos jurídicos, administrativos e contábeis.
O passado e o presente do sector devem estar interligados de forma sábia e crítica.
A “concepção filosófica cooperativa do homem organizado, da empresa e da sociedade” deve ser entendida e apreendida e não deixada como tal, mas sim derramada na realidade das sociedades ou comunidades onde uma cooperativa se desenvolve.
E é preciso formar-se para isso, compreender o processo de organização de uma “empresa cooperativa” não só na sua vertente jurídica mas na sua própria essência como “entidade social e solidária” com real impacto nas pessoas, tendo-as como o primeiro e acima de tudo, centro e propósito por último.
A governação, a gestão e a administração necessitam de uma base teórica certa, sólida e bem fundamentada. Caso contrário, as cooperativas estarão fadadas ao fracasso. Ou ser apenas uma aspiração e não uma realidade verdadeira.
Compreender o cooperativismo como essência e as cooperativas como entidades é essencial. E tudo indica que os professores Yorg e Ramírez Zarza estão nesse caminho.
Conte comigo pessoalmente e com nossa Federação de Cooperativas de Serviços da Província de Buenos Aires FECOOSER – que tenho o orgulho e a honra de presidir – para o que for necessário.
Devemos nos unir e trabalhar juntos mesmo à distância, porque o cooperativismo precisa disso e o nosso povo merece ter cooperativas sérias e líderes cooperativos capacitados para enfrentar todas as vicissitudes que a realidade política institucional do nosso país nos desafia.
José Yorg é educador e docente técnico em Cooperativismo, membro da Rede de Investigadores Latinoamericanos de Economia Social e Solidária (RILESS), que envolve universidades da Argentina, Brasil, Equador e México. Este argentino nascido em Assunción (Paraguay) desenvolve actividades na Tecnicoop, na província de Formosa, onde é também perito judicial técnico em Cooperativismo no Superior Tribunal de Justiça.
Be the first to commenton "Carta aberta à Ana María Ramírez Zarza e ao José Yorg"
Be the first to comment on "Carta aberta à Ana María Ramírez Zarza e ao José Yorg"