Abordagens cooperativas, hoje: Os salários do Medo

“Me ofereceram um conchabo para sobreviver, para sobreviver, o trabalho anda escasso, o salário é estreito e as costas são largas. Como tenho meus filhos que estou criando com as próprias mãos, fico viciado em qualquer coisa, a fome é muita e o pão escasso” 

José Larralde

“Na minha qualidade de empregador e diretor (…) fiz tudo o que pude para aliviar os males dos meus empregados; e ainda assim, apesar de tudo o que fiz, com o nosso sistema totalmente irracional de criação de riqueza, de formação do carácter e da organização de todas as actividades humanas, só consegui aliviar um pouco a miséria do seu estado.”

Roberto Owen

Por José Yorg, o cooperário *

The Wages of Fear é um filme baseado no romance de Georges Arnaud e realizado em 1953 pelo realizador francês Henri-Georges Clouzot, estrelado por Charles Vanel, Yves Montand, Peter Van Eyck, Folco Lulli, Vera Clouzot, William Tubos, Darío Moreno, Jo Dest, entre outros, que aborda temas humanos em ambientes desolados, “de desigualdade económica e social entre o que passou a ser chamado de primeiro mundo e terceiro mundo. Pobreza, fome, desemprego, desespero e uma necessidade de fugir.”

Sem dúvida, o título tem uma conotação chocante e actual na vida dos trabalhadores, já que vivemos sob esse desígnio: o medo da pobreza.

O salário continua a ser uma variável de ajustamento económico destinada à disciplina mais do que qualquer outra coisa, e o comentador do filme explica-o assim: “Mas podemos ir além do filme. Arriscar a vida por um salário é justo? E já não me refiro apenas a arriscar a vida realizando determinadas tarefas, mas a matar para conseguir um emprego. É claro que o desespero pode ser uma importante fonte de motivação. Mas não esqueçamos que é um jogo a dois, onde uns aproveitam o desespero dos outros. É precisamente isso que está por trás das leis da oferta e da procura aplicadas aos salários e ao emprego.”

“O patrão já me disse que se eu ficar doente ele não vai cuidar disso. Droga! Eu valho pouco, se não tiver dinheiro nem para fumar, e o osso que levo para casa dentro do peito está batendo meu.”

José Larralde

Os governos que perderam o rumo político em termos de implementação de planos de desenvolvimento com equidade, que procuram o bem-estar geral, só conseguem encher-se de justificações na referida crise global sem procurar alternativas.

O trabalhador do século XXI, século de alta tecnologia e comunicação, século de superprodução e do mais extraordinário avanço científico, só encontra condições deploráveis ​​no seu campo de trabalho e os seus direitos diminuíram.

“Isso, obviamente, é determinado pela relação entre oferta e procura. Sem um sistema que proteja e estabeleça condições mínimas que garantam um salário justo, o trabalhador fica perdido, pois a tendência do empregador diante da abundância de quem procura emprego é baixar o salário. Para o empregador, o desespero do empregado é a lucratividade. E há muito desespero no filme. No mundo real também”, descreve-nos o comentador.

Em que tipo de capitalismo vivemos, se a maioria das pessoas não tem dinheiro no bolso para gastar e assim impulsionar a economia?

Bairros operários britânicos (D.R.)

Sem dúvida algo está errado, e é tão errado que os danos se observam na natureza, no mundo, na nossa casa comum, na nossa nave que certamente pode afundar no mar espacial e… ninguém se salvará!

Os baixos salários lançam o trabalhador numa existência de necessidades contínuas cujas repercussões são resultados sociais como o analfabetismo, a desnutrição, a corrupção e o desencanto com o modelo democrático, entre muitos outros males.

No meio desta circunstância desastrosa, porém, surge uma resposta: o trabalho cooperativo associado.

Nas cooperativas de trabalho associadas, as empresas constituídas voluntariamente por trabalhadores que contribuem com capital e estatutariamente estabelecem para si o regime de trabalho e, portanto, administram suas empresas, assumem responsabilidades de assistência social, previdenciária e compensatória, e, por tudo isso, não estão sujeitas a legislação laboral aplicável aos trabalhadores dependentes.

Nas cooperativas de trabalho associadas temos, portanto, a oportunidade de humanizar o trabalho e o capital, ambos centrados na plena realização do trabalho como expressão artística e rentável de homens e mulheres, melhorando consequentemente o tecido social e económico da sociedade, uma vez que estabelece uma certa esperança para um mundo melhor e mais próximo.

Em fraternidade, um abraço cooperativo!

About the Author

Jose Yorg
José Yorg é educador e docente técnico em Cooperativismo, membro da Rede de Investigadores Latinoamericanos de Economia Social e Solidária (RILESS), que envolve universidades da Argentina, Brasil, Equador e México. Este argentino nascido em Assunción (Paraguay) desenvolve actividades na Tecnicoop, na província de Formosa, onde é também perito judicial técnico em Cooperativismo no Superior Tribunal de Justiça.

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