Por Raquel Azevedo *
Estreada na RTP2 a 21 de abril de 2025, “O Infiltrado” (The Walk-In), minissérie britânica em cinco episódios, emerge como um retrato perturbador e necessário do crescimento do extremismo de direita na Europa contemporânea. Baseada em factos reais, a série acompanha a trajetória de Matthew Collins, um ex-militante de grupos fascistas que se torna ativista antifascista, infiltrando-se em células neonazis no Reino Unido através da organização Hope Not Hate.

Protagonizada pelo aclamado ator Stephen Graham, cuja interpretação é intensamente humana e inquietante, a narrativa mergulha nas complexidades do ódio ideológico e da radicalização, desvendando os bastidores de movimentos extremistas que, longe de serem resquícios do passado, continuam a crescer e a recrutar em pleno século XXI.
A relevância de “O Infiltrado” é inegável. Num contexto europeu marcado pela ascensão de discursos populistas, pelo aumento da xenofobia e por atentados motivados por ideologias supremacistas, a série oferece mais do que entretenimento: é um alerta social. Ao trazer para o ecrã personagens reais, lutas concretas e dilemas morais profundos, levanta questões que ecoam na atualidade: como combatemos o extremismo sem perder os princípios democráticos? Que papel têm os media e a sociedade civil? Até onde pode ir a coragem individual?
A força da série reside na sua abordagem crua e realista. Sem recorrer a clichés ou heroísmos fáceis, apresenta um protagonista vulnerável, assombrado pelo seu passado, mas movido por um desejo genuíno de reparação. A sua infiltração em grupos neonazis expõe não apenas o perigo desses movimentos, mas também os mecanismos silenciosos — redes sociais, fóruns, eventos “inocentes” — que permitem a proliferação de ideias radicais, muitas vezes à margem da lei e do escrutínio público.
Outro mérito da série é não cair na armadilha da simplificação. O extremismo é mostrado como um fenómeno complexo, que se alimenta do medo, da exclusão social, da desinformação. E por isso mesmo, O Infiltrado também é um apelo à educação, ao pensamento crítico, à necessidade de plataformas de diálogo que contrariem o isolamento em bolhas ideológicas.

A sua exibição na RTP2 tem um valor acrescentado: num serviço público de televisão, esta é uma oportunidade para reforçar o papel do audiovisual como ferramenta de sensibilização e reflexão coletiva. É também um contributo para a memória política, ao lembrar que o fascismo, o racismo e o ódio não pertencem apenas aos livros de História, mas estão vivos — muitas vezes disfarçados — nas ruas, nas redes, nas políticas.
Num mundo onde o silêncio muitas vezes é cúmplice, “O Infiltrado” grita com urgência. Grita contra o medo, contra a normalização do ódio e pela coragem de enfrentar a verdade. Uma série que não se vê apenas com os olhos, mas com a consciência.
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