“A aspiração de conquistar. Buscando, com seus próprios métodos, servir seus membros e toda a comunidade, a cooperação se esforça para conquistar e transformar a organização económica e social do mundo. É isso que a ACI proclama, com razão.”
Paul Lambert (p. 272 – A Doutrina Cooperativa – Ed. Intercoop. 1975)
Por José Yorg, o cooperário *
Registamos como citação o ponto central do que desejamos discutir criticamente: o cooperativismo e a necessária recuperação de sua estratégia original de construção do duplo poder político, única ferramenta para influenciar a melhoria social.

Precisamos examinar esse aspecto importante do cooperativismo, ao qual pouca ou nenhuma atenção é dada. Na verdade, alguns canalhas estão tentando relegar esse princípio cooperativo ao esquecimento.
Contexto global
Este tópico, há muito adiado, não tem mais espaço para debate porque, diante de nossos olhos, o capitalismo financeiro está se dissolvendo em si mesmo. As medidas ferozes e sangrentas que implementa — desde o desmantelamento institucional, a precariedade democrática, o confronto armado e a repressão selvagem — são em vão, como um estratagema para incutir o medo que paralisa qualquer tentativa de buscar uma alternativa melhor para a convivência. O capitalismo financeiro é implacável em sua fuga porque sabe de sua inevitável extinção civilizacional.
A tentativa proposta por Davos de redefinir o capitalismo é um fracasso completo.
Poder cooperativo paralelo
Então? Continuemos: Olhemos para o cooperativismo como uma alternativa socioeconómica para construir lenta, mas firmemente, esse horizonte, hoje utópico, amanhã pode ser tão real quanto um mundo melhor.
Assumindo que, como um Hércules gigante, a tarefa a ser desenvolvida surge diante de nós, começando por delinear essa futura transformação cooperativa em meio ao desastre atual, o desequilíbrio insano que deve ser corrigido e construindo um poder cooperativo paralelo.
Hoje, é preciso dizer e admitir que esse conjunto disperso de cooperativas sem integração económica ou social não tem mais condições de continuar existindo. Nessas condições, eles preservam a actual ordem global injusta. No entanto…
Esse conjunto de cooperativas, abrangendo a totalidade das atividades económicas, sociais e financeiras, envia um sinal claro: outra forma organizacional, outra civilização, está ali, presente e activa. Eles representam a verdadeira subjectividade da civilização cooperativa. Sempre foi assim, a história nos ensina, e é que de uma determinada sociedade se engendra outra diferente.
“Homens trabalhadores, produtores de riqueza, conhecimento e tudo o que é verdadeiramente valioso na sociedade, unem forças hoje para criar uma nova e justa forma de existência humana, uma situação na qual não haverá outra competição além daquela de produzir a maior felicidade duradoura para a raça humana; vocês têm em suas mãos todos os elementos necessários para provocar tal mudança.”
Robert Owen
O duplo poder que as cooperativas essencialmente possuem como um todo não pode ser colocado em acção. E para tal tarefa é necessário e oportuno integrá-los, devendo estar intimamente ligados ao partido político cooperativo.
O desenvolvimento e a consolidação da economia cooperativa como uma engenharia de poder paralela e dual devem ser intensificados como uma táctica superior.
Rumo a um belo e possível salto imaginário
Enrique Agilda, em sua obra “Cooperação, Doutrina da Harmonia”, escreveu: “É um enorme salto imaginário que seria preciso dar para passar desta sociedade de fundamentos egoístas para uma sociedade baseada na cooperação com firmes fundamentos económicos, morais e espirituais”.
Mas se não tentarmos construir essa sociedade baseada na cooperação, a espécie humana enfrentará sérios dilemas quanto à sua própria extinção por fome e explosão nuclear.
Transcrição textual:
Por fim, a ACI abraça com ousadia o ideal dos Pioneiros. Embora o texto a seguir esteja localizado no primeiro artigo, “Nome”, e não no terceiro artigo, “Objectivos”, ele expressa claramente não apenas as aspirações necessárias de cada cooperativa em particular, mas também as aspirações necessárias do movimento cooperativo como um todo.
“A ICA, dando continuidade ao trabalho dos Pioneiros de Rochdale e de acordo com seus princípios, busca, com total independência e por seus próprios meios, a substituição do regime de empresas privadas com fins lucrativos por um regime cooperativo organizado no interesse de toda a comunidade e baseado na ajuda mútua.” (Pág. 90 – A Doutrina Cooperativa – Paul Lambert – Ed. Intercoop. 1975.)
Se o exposto acima, como resultado de uma decisão política, não é uma táctica superior para promover a criação do poder dual como um método para alcançar um mundo melhor… então o que é?
Podemos afirmar com autoridade, então, que devemos retomar vigorosamente a construção do poder dual-paralelo porque ele constitui um princípio fundamental do movimento cooperativo universal, que é, em termos simples, mas complicado em termos de avançar na construção de uma ordem económica e social superior que substitua o sistema capitalista. É possível porque as cooperativas estão aí, só falta a parte mais difícil: conscientização e vontade política.
Em fraternidade. Um abraço cooperativo!
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