Por Inês Moreira dos Santos *
A participação das mulheres na política é um dos indicadores mais claros do grau de democracia e equidade de uma sociedade. No entanto, apesar de constituirmos aproximadamente metade da população mundial, as mulheres continuam sub-representadas em cargos políticos e posições de poder em quase todos os países. A política, historicamente dominada por homens, ainda impõe múltiplas barreiras à participação feminina. A presença de mulheres nos espaços de decisão é fundamental não apenas por uma questão de justiça social, mas pela qualidade democrática e pela diversidade de perspectivas na formulação de políticas públicas.

Durante séculos, o papel da mulher foi limitado ao espaço doméstico. A exclusão das mulheres da política tem bases profundamente enraizadas no patriarcado, que associou o poder, a racionalidade e a liderança ao masculino, enquanto atribuiu à mulher características de fragilidade, emoção e submissão. As mulheres trabalham para os homens há mais tempo do que é bom recordar. Dá jeito aos homens que isto se mantenha assim. Trabalham não remuneradamente, e os homens podem continuar na sua vidinha, sem muitas preocupações que as mulheres têm. Preparam-lhes a vida, enquanto a delas é posta para segundo plano. Os filhos, a casa, tudo é mais importante do que se envolverem na luta pelos seus direitos, porque se não forem elas preocupadas com estes temas, também não serão os homens. A maioria. A falta de políticas de cuidado (como creches públicas, horários flexíveis, entre outros) afasta muitas mulheres da militância e das eleições. O que acaba por beneficiar alguns homens incapazes.
Apesar de alguns avanços, os números ainda mostram um desequilíbrio enorme. Segundo dados da ONU Mulheres, em 2024: apenas cerca de 26% dos parlamentares no mundo são mulheres, apenas 17 países têm mulheres como chefes de Estado ou de governo, em mais de 100 países, mulheres ocupam menos de 30% das cadeiras no parlamento, em alguns parlamentos, as mulheres não ocupam nem 10% dos assentos.
As mulheres que entram na política, frequentemente, enfrentam questões sobre sua competência, aparência, comportamento e vida familiar. Ainda existe a ideia de que política “não é lugar de mulher”, o que afeta diretamente a sua credibilidade. A violência política contra mulheres é um fenómeno crescente. Esta violência pode ser física, simbólica, psicológica ou virtual, e tem como objetivo intimidar, silenciar ou afastar as mulheres da esfera pública. Casos de assédio, ameaças e agressões são comuns e muitas vezes negligenciados pelas instituições de denúncia. Desde insultos, a ameaças, ou ofensas a familiares, a montagens que fazem passar por verdadeiras, a “vais ficar sozinha com gatos”, a “o teu marido é um coitado”, até a processos em tribunal que claramente têm como objetivo silenciar as mulheres, etc, tudo é válido quando toca a atacar mulheres. O debate político endureceu. E para quem julga que os direitos conquistados das mulheres estão a salvo, desengane-se, os direitos das mulheres são os primeiros a ir embora.
Apesar disso, estudos demonstram que as cotas aumentam significativamente a presença de mulheres nos parlamentos e abrem espaço para o debate de género. A inclusão de mulheres na política não é apenas uma questão de justiça social, mas de qualidade democrática. Parlamentos mais diversos tendem a produzir políticas públicas mais equilibradas e atentas às necessidades de toda a população. As mulheres também trazem novos estilos de liderança, muitas vezes mais colaborativos, empáticos e voltados para o diálogo e representam diferentes formas de fazer política com coragem, ética e compromisso social, mesmo enfrentando obstáculos.
Para que mais mulheres participem da política de forma efetiva, é necessário:
● Educação política desde cedo, com inclusão da perspectiva de género;
● Combate efetivo à violência política de género;
● Financiamento público e justo para candidaturas femininas;
● Criação de redes de apoio entre mulheres políticas;
● Transparência e fiscalização das cotas de género;
● Mudança cultural, com valorização da liderança feminina em todos os níveis.
As mulheres têm lutado com coragem para conquistar espaços na política, e cada conquista é fruto de resistência e organização coletiva. Mas o caminho rumo à igualdade plena ainda é longo. A política precisa deixar de ser um espaço hostil para as mulheres e passar a refletir, de fato, a diversidade e a complexidade das sociedades que representa. O futuro da democracia depende, em grande parte, da presença ativa, livre e respeitada das mulheres na política. A presença das mulheres na política é um dos indicadores centrais para medir a profundidade da democracia em qualquer sociedade. A disparidade entre os géneros nos espaços de decisão evidencia a persistência do patriarcado, e compromete a legitimidade das instituições democráticas. A política não pode continuar a ser um espaço de exclusão. A presença das mulheres nos cargos de decisão é essencial para garantir uma democracia plena, representativa e sensível às múltiplas realidades sociais. A luta pela equidade de género na política não diz respeito apenas às mulheres: é uma luta por justiça, diversidade e qualidade democrática. O futuro da política passa, inevitavelmente, pelas mulheres.
O empoderamento das mulheres é não só necessário como vital se queremos ser um país progressista. A inserção política das mulheres, para lhes devolver o poder que foi, desde sempre, cerceado. A melhoria do estatuto social, com os homens a ocuparem-se também das tarefas domésticas e assim as mulheres conseguirem trabalhar fora de casa e progredir nas carreiras. É necessário empoderar as mulheres para tudo o que elas quiserem ser, e em todos os lugares onde elas queiram estar. Porque se queremos uma sociedade progressista temos de parar de desconsiderar o contributo das mulheres.
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