Brasil: Mangabeira Unger tinha razão, mas eu também

Sobre as causas que dificultam o desenvolvimento e causam insatisfação social.

Por José Yorg, o cooperário *

“Para Mangabeira Unger, o mercado, o Estado e qualquer outra forma de organização social humana não deveriam estar confinados a certos arranjos institucionais rígidos. Pelo contrário, devem permanecer abertos à experimentação e à revisão, para encontrar o caminho apropriado que faça avançar o projecto de empoderamento da humanidade. Grande parte do trabalho de Mangabeira representa uma tentativa de repensar a sociedade e a política com o objectivo de libertar homens e mulheres das limitações da hierarquia social e da degradação da escravatura económica, bem como de activar os ideais de democracia fortalecida e de liberdade individual.” (Wikipédia)

Para mim, José Yorg, tudo o que Roberto Mangabeira Unger afirma é coincidente, porém, afirmo enfaticamente que devem ser reveladas com total clareza as causas profundas da injustiça social, que é o modo de organização socioeconómica capitalista que entrou em sua etapa de senil. Mas ele, Mangabeira Unger, NÃO APONTA que o capitalismo já deu tudo de si, é hora de ser superado pelo modelo cooperativo para o bem da humanidade.

Em 2009, especificamente, no mês de maio, alguns jornais publicaram minha polêmica com o então ministro de Assuntos Estratégicos do Brasil, Roberto Mangabeira Unger, que hoje, diante dos acontecimentos de insatisfação social desencadeados no Brasil, são válidas, modestamente, a meu ver.

“Os protestos surgiram como uma reação ao aumento de 10 centavos na tarifa do transporte público, mas são evidentemente um reflexo da insatisfação generalizada no Brasil com a pesada carga tributária, a percepção de corrupção entre os políticos e os deficientes sistemas de educação pública, assistência médica e transporte.”

«Não é por causa dos centavos (aumento). Esta é uma exigência reprimida, reflexo da falta de perspectiva dos jovens.» O transporte também é terrível: “Andamos sobre um chassi de camião disfarçado de ônibus”, disse um participante, de 56 anos, nos protestos, 
informava o jornal argentino La Nación.

Na ocasião discordei das declarações do ex-Ministro de Assuntos Estratégicos do Brasil, Roberto Mangabeira Unger, ao se manifestar na cidade de Medianeira, no Estado do Paraná (Sul do Brasil), diante de associados de cooperativas agrícolas, observou que “o Brasil está fervendo de vitalidade empreendedora e criativa, mas está preso a uma camisa de força de instituições, práticas e ideias que suprimem essa vitalidade, em vez de instrumentalizá-la.”

Minha polémica com Mangabeira Unger é que ele se limita apenas ao Brasil no que se refere aos obstáculos ao desenvolvimento e também não denuncia as razões científicas e ideológicas dessa “camisa-de-força” à vitalidade “empreendedora e criativa” como ele as define, que é a dependência que toda a América Latina sofre, que a deixa estagnada económica, social e politicamente, porque existe uma relação de subordinação com as nações mais desenvolvidas e por isso deve ser rompida, pois impedem essa tão necessária descolagem. E é isso que não diz Mangabeira Unger.

Concordo amplamente, porém, e reconheço, com Mangabeira Unger, quando ele afirma que o cooperativismo é o melhor caminho a seguir para o Brasil dar o salto que pode e precisa dar, especialmente levando em conta a atual crise internacional. O que acrescento, expondo as razões, é que isso é possível desde que o Brasil e os demais países modifiquem as diretrizes sobre as quais se rege sua relação de dependência-dominação do capitalismo externo, podendo, portanto, evoluir para um estágio superior de organização do produção e distribuição acompanhada de uma concepção cooperativa da vida social.

“O Brasil deve promover a revolução agrícola”

Valorizei também as expressões do então governante brasileiro que afirmou que “o país tem interesse estratégico nesta experiência exemplar de cooperativismo agrícola, superando os problemas que enfrenta e pode ajudar a apontar o caminho que o país deve seguir, e o Estado brasileiro deve levar adiante uma revolução, e que o terreno mais fértil para realizá-la é na agricultura, em particular, na cooperativa.”

A globalização neoliberal, e isto deve ser enfatizado, a última etapa do capitalismo, produziu efeitos devastadores em todas as escalas e níveis, pretendendo agora que os trabalhadores e os produtores paguem pela crise, enquanto espremem as perspectivas dos países subdesenvolvidos de desenvolverem e executarem políticas económicas que superem os obstáculos do atraso anacrónico e assim estimulem o desenvolvimento económico e social equitativo. E nesse contexto o cooperativismo é a melhor opção, pois propõe outra realidade, que é a de que um mundo melhor e digno é possível.

Estas falas publicadas, e que hoje repito, têm uma validade formidável para debatê-las e discuti-las com a mente aberta, por isso aponto que Mangabeira Unger tinha razão mas eu também, porque penso que ambos sabíamos que aquela “camisa de força” se romperia e explodiria socialmente, e é isso que os sectores conservadores não querem entender.

Em fraternidade, um abraço cooperativo!

[Foto: Partido dos Trabalhadores]

About the Author

Jose Yorg
José Yorg é educador e docente técnico em Cooperativismo, membro da Rede de Investigadores Latinoamericanos de Economia Social e Solidária (RILESS), que envolve universidades da Argentina, Brasil, Equador e México. Este argentino nascido em Assunción (Paraguay) desenvolve actividades na Tecnicoop, na província de Formosa, onde é também perito judicial técnico em Cooperativismo no Superior Tribunal de Justiça.

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