
Por Paulo Jorge Teixeira *
Trabalhar e dirigir uma Organização de Economia Social (OES) é nos dias de hoje tarefa árdua e de vias estreitas. Por muitas e variadas razões, mas sobretudo porque o Estado se comporta como um predador sobre a área. Predador porque em vez se se colocar no seu plano de ação, a causa pública, e a visão global sobre o país, age, fundindo as atividades das OES na sua vertente social e prática, sendo na prática um concorrente desleal e abusivo sobre o dia a dia delas.
Sendo na sua essência entidades que buscam a satisfação de necessidades globais da comunidade onde se inserem, e a resolução mais eficaz da falta e procura de trabalho, a competição desigual que sofrem faz muitas definhar e sobretudo desaparecer.
Na cidade do Porto, desde os tempos da presidência do Dr. Fernando Gomes, temos vindo a assistir, paulatinamente, ao desaparecimento de dezenas de entidades que não conseguem competir com o Estado e com o mercado.
A necessidade de skills de gestão específicas, que elas não possuem, leva e ajuda na via estreita onde se encontram.
Mais, nas áreas da prestação de serviços culturais e de divertimento o panorama é ainda pior, pois as televisões e as plataformas digitais concorrem com estas na entrega de serviços, dentro das casas.
A consequente falta de socialização que o mundo moderno nos traz é também um fator de desapego ao florescimento delas.
Estamos então cientes que a área social, o tal terceiro pilar de que se tanto fala o não é devido a uma plêiade de motivos, de onde ressaltam os atrás expostos, e mais alguns que ainda iremos aduzir.
Sérgio Pratas, um dos maiores estudiosos modernos da área das OES, diz no seu mais recente livro, que temos de ter em conta a dificuldade de as estudar e vivermos valores e as histórias dessas organizações. Sem isso caminharemos para estruturas ocas sem sentido e sem serem úteis, digo eu. E isso leva-nos a que elas deixem de fazer sentido e terem lugar na vida moderna onde tanta falta fazem.

A falta de capacidade de reflexão, de sair da caixa e fazer por pensar fora dos ditames de um estado castrador e de um mercado voraz e aniquilante tem feito com que os seus valores tenham sido absorvidos pela parte assistencialista do estado sem benefícios para ninguém.
A falácia do empreendedorismo, verdadeira praga dos nossos dias faz o resto do ataque que causa estas insónias. Valorizar e dar cobertura a verdadeiras empresas que visam e bem o lucro e dar-lhes uma capa social é dos maiores atentados dos dias de hoje.
Somos todos cúmplices deste pecado original, pois de dentro do sector não se levantam vozes que venham repor a verdade e denunciar o embuste.
Por hoje a nossa justa, fica por aqui, mas com a certeza de que iremos em todo lado e em todas as formas denunciar estas situações e pugnar por ser retomado o caminho da solidariedade e do trabalho em prol da comunidade.
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