
Por José Yorg, o cooperário
“Uma canção para a vida, apesar de todas as negativas, se houver vontade cooperativa, constrói-se o sonho da casa própria.”
[Nota do editor: O bairro cooperativo Kuarahy Rese teve sua pedra fundamental assentada em 15 de Maio de 2009 (“Dia de Las Madres y de La Pátria”), foi construído em regime mutualista e em Agosto de 2013 recebeu o registo municipal de Itá, departamento Central do Paraguai. É a primeira experiência bem sucedida de Cooperativa de Habitação no Paraguai.]
Este artigo entra no capítulo que bem poderíamos chamar de “Resgatados” daqueles que partilhamos através do Diário 560, graças à sua generosidade, considerando-os, segundo a nossa modesta opinião, ilustrativos do esforço próprio e da ajuda mútua, neste caso na construção da Habitação.
Confesso que ao ler esta narrativa da minha amiga Angelina Benítez 1, tive o impulso incontrolável de partilhá-la também, partindo da generosidade dos meios de comunicação como uma mensagem de esperança, na realidade um canto à vida, que apesar de tudo o que é negativo, se houver vontade cooperativa, constrói-se o sonho da casa própria. Replico esta história cooperativa de esforço próprio e ajuda mútua como uma lição educacional cooperativa exemplar.

Angelina nos conta, em sua expressão particular (fala em espanhol-guarani, como toda a população paraguaia):
“Hoje quero compartilhar com meus parentes, vizinhos, amigos, algo lindo que colhi: Faz hoje 17 anos que eu consegui a coisa mais linda que toda mulher quer ter: uma casa digna.
Lá em 1999 começou um sonho que era ter uma casa. Vizinhos e amigos de todos os lados se juntaram a nós. Finalmente, no dia 29 de dezembro de 2001, havíamos concretizado parte desse sonho, com uma festa, sob uma grande mangueira, onde hoje fica nosso posto policial.
Foram abraços e choros de tanta alegria, havíamos comprado o terreno. No dia 15 de agosto de 2005 recebemos a chave da nossa casa, eram 135 casas, o que todos sonhávamos foi realizado.
“Morava numa casa chiquitita”
Angelina Benítez
No dia 29 de outubro tirei o pouco que tinha, porque morava numa casa chiquitita onde não podia fingir que tinha nada, porque não tinha espaço, para não dizer que era extremamente pobre, e contei aos meus filhos, finalmente depois de quase seis anos de sacrifícios vamos viver em nossa casa e foi isso que fizemos.
Hoje quero agradecer a Deus por me permitir continuar desfrutando do que é tão lindo graças a 135 colegas que também tiveram o mesmo sonho e a mesma necessidade, e que com muitos sacrifícios conseguiram realizar o tão sonhado sonho de ter casa.
Não é para me gabar, mas che aguaraitereintema nio [“muito alegre, muito feliz”]. Moro em um bairro fechado, Nde Mbojaruta Hina [ela expressa seus sentimentos “de forma brincalhona, a brincar”], minha casa nio é um duplex, que ao olhar parece a casa da Sol Cartes, tem 72 metros quadrados com todo o conforto. [Aqui ela exemplifica a sua impressão de que sua casa é tão bonita quanto a casa de pessoas milionárias e poderosas].

da Cooperativa de Vivienda
de Usuarios por Ayuda
Mutua Kuarahy Rese.
Tem quartos com porta-armários, nambrena vo’i [não sabe ilustrar como é lindo], sala de jantar de 6 x 4 metros, cozinha, banheiro moderno, tudo com água quente.
E o bairro tem toda a infraestrutura mais moderna que se poderia esperar. Escola básica, secundária, campo com arquibancadas e iluminação, onde aos domingos nossos filhos, irmãos, maridos, espalham talentos, uns mangas de pysatroncos [jogadores desajeitados]; mas eles acreditam que são Ronaldinho, Pelé, Chilavert, Roque…
Tenho orgulho de pertencer ao primeiro bairro cooperativo do Paraguai, somos pioneiros na habitação de ajuda mútua. Modéstia a parte, sou associada número 1.
Tenho milhares de histórias anedóticas que gostaria de contar, demoraria horas para contar tudo o que tive que passar para chegar até aqui. Hoje só quero agradecer a Deus por tantas bênçãos.”
Verdadeiramente… O que posso acrescentar a esta comovente narrativa da minha querida amiga Angelina, do Paraguai? A ela agradeço muito por ter compartilhado a emoção que se repete todos os anos ao comemorar aquele dia inesquecível de entrega das chaves de suas casas cooperativas.
- Angelina Benítez, do Bairro Kuarahy Resê (=sol nascente) Itá (=pedra), é uma cidade do Departamento Central do Paraguai. ↩︎
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