Monsieur Spade: O retorno de um ícone do Noir

Por Raquel Azevedo *

A série “Monsieur Spade” traz de volta um dos mais icónicos detetives da literatura e do cinema, Sam Spade, imortalizado por Humphrey Bogart em “O Falcão Maltês” (1941). Protagonizada por Clive Owen, a produção oferece uma nova abordagem ao personagem criado por Dashiell Hammett, explorando uma fase inédita de sua vida em um cenário inesperado.

Diferente do Spade durão e cínico dos romances noir clássicos, a série o apresenta aposentado no sul da França, na década de 1960. Aos 60 anos, ele deixou para trás a vida turbulenta em São Francisco e busca tranquilidade em Bozouls, uma vila amena. Contudo, a paz não dura muito. Um assassinato brutal e o envolvimento de forças misteriosas o puxam de volta ao mundo da investigação, forçando-o a revisitar suas antigas habilidades e sua moral ambígua.

Clive Owen encarna um Spade envelhecido, mas ainda afiado e carismático. Diferente da interpretação de Bogart, que fez do detetive um símbolo do cinema noir, Owen adiciona novas camadas ao personagem, explorando sua solidão, nostalgia e resistência a um mundo que mudou drasticamente desde seus dias de glória. O roteiro aprofunda as complexidades da sua personalidade, tornando-o mais introspectivo e vulnerável, sem perder o charme e a inteligência afiada que o tornaram icónico.

Uma das inovações mais marcantes da série é sua ambientação. Enquanto o noir tradicional se passa em cidades sombrias e nebulosas, “Monsieur Spade” leva a ação para o ensolarado sul da França. No entanto, o espírito do género permanece intacto: há corrupção, traição e uma teia de mistérios que envolve o protagonista. A fotografia da série brinca com luz e sombra, criando um contraste visual intrigante entre a beleza do cenário e a escuridão dos eventos que se desenrolam.

A série mantém o tom característico do noir, mas incorpora elementos contemporâneos, equilibrando ação e drama psicológico. A influência do cinema francês também é evidente, adicionando uma sofisticação narrativa que diferencia “Monsieur Spade” de outras produções do género. Além disso, há referências diretas à obra de Hammett e ao legado do detetive no cinema, o que deve agradar tanto aos fãs antigos quanto aos novos espectadores.

Monsieur Spade não é apenas um retorno nostálgico a um clássico, mas uma reinvenção que respeita a essência do personagem enquanto o coloca em um novo contexto. Clive Owen entrega uma performance marcante, e a série promete conquistar tanto os amantes do género noir quanto aqueles que buscam uma história envolvente e bem construída.

Com um mistério intrigante, uma ambientação singular e um protagonista icónico em uma nova fase de sua vida, “Monsieur Spade” reafirma a relevância do noir, mostrando que mesmo sob o sol da França, as sombras do passado sempre encontram uma forma de voltar. Disponível na Filmin Portugal.

[“Monsieur Spade”, mini-série TV, 2024. Autor: Tom Fontana, Scott Frank; Com Clive Owen, Cara Bossom, Denis Ménochet; Prémio Artios da Casting Society USA 2025]

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Raquel Azevedo
* Raquel Azevedo é técnica multimédia, produtora, activista sindical e cinéfila.

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