O ano de 2025 será desafiador para o Cooperativismo, a começar pela adopção de uma resolução das Nações Unidas como Ano Internacional das Cooperativas. O objectivo é promover as cooperativas e sensibilizar para o seu contributo na implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e para o desenvolvimento social e económico global.
Mas há mais: durante a conferência “O Cooperativismo na Cidade do Porto”, em Dezembro, diversos líderes cooperativistas lançaram reptos à mobilização sobre o movimento, como Paulo Jorge Teixeira, presidente da Povo Portuense, anfitriã do evento, que convida para os 125 anos da cooperativa.
“Devemos criar um fluxo imigratório não economicista, mas para criar uma nova sociedade”
Paulo Jorge Teixeira, CPP
Fundada a 1 de Janeiro de 1900, a Cooperativa do Povo Portuense (CPP) tem ainda hoje o desafio de ser uma cooperativa a “tentar soluções para os mesmos problemas que existiam na data da fundação”, pondera Paulo Jorge Teixeira, em declarações à Lusa.
E aponta que a Portuense deve investir na “formação de dirigentes e funcionários para as cooperativas e associações e aplicar a economia do envelhecimento, promovendo o tratamento do humano por outro humano”.
Habitação cooperativa
Para Justino Santos [na foto, a receber uma distinção de Paulo Jorge Teixeira], que foi particularmente homenageado durante o encontro, a “questão da habitação deve ter respostas de cooperativas”, e recordou que durante o seu percurso, quando desempenhou mandato autárquico, impulsionou a construção de habitação social de matriz cooperativa.
A provocação do “Padre Justino” teve os ouvidos atentos de Manuel Pizarro, também cooperativista e hoje candidato à Câmara do Porto. O socialista já esteve à frente da Cooperativa de Consumo de Ramalde, outro marco do movimento no Porto.
À frente da Uninorte – União Cooperativa Polivalente da Região Norte, Fernando Martinho fez questão de assinalar a importância das cooperativas centenárias, como a Cooperativa dos Pedreiros, que construiu centenas de edifícios icónicos da cidade invicta, como o Banco de Portugal, a Câmara Municipal do Porto e a próprio Cooperativa do Povo Portuense.
Martinho ainda recordou a importância de tantas “cooperativas centenárias” para inspiração das novas, a exemplo da Cooperativa dos Pedreiros, que sobreviveu a tantas outras de classes operárias no início do século XX, como “dos carpinteiros, pintores”, e também as cooperativas de consumo, que ainda hoje vivem, a exemplo das do Lordelo e de Ramalde.
“Só em 1995 foi consagrado a nível mundial que uma cooperativa realiza-se se tiver políticas de interesse pela comunidade, e não apenas dos seus membros. Algo que cooperativas como a Portuense já faziam”.
Fernando Martinho
Hoje a Uninorte tem dado “apoio a várias cooperativas que estão em fase de criação”, como as jovens cooperativas integrais, e em função do ramos de actividade, com base na nossa experiência, Martinho afirma que tem encaminhado “ao Manuel Ferreira se é para criar uma régia cooperativa, ao Francisco Silva se é para uma cooperativa educacional”, e assim por diante.
Cooperativismo e a Economia Social
Já Manuel Solla, ao recordar o seu percurso com cooperativas editoriais, culturais e no apoio às comunidades imigrantes, alerta para a revalorização do Cooperativismo dentro do universo da Economia Social em Portugal, a partir da CASES – Cooperativa António Sérgio para a Economia Social.
A Atlas Cooperativa Cultural, em sua vertente humanista de apoio às comunidades imigrantes, foi responsável pelo impulso ao governo de Guterres, “na altura da Expo 98”, com “um conjunto de propostas” de políticas de imigração, o que culminou “a Lei 4 de 2001, que permitiu a legalização de 180 mil trabalhadores no prazo de um ano”, esclareceu Solla.
Manuel Solla é hoje Director de Redacção deste Diário 560, que assinala 10 anos de publicação online sobre o Cooperativismo e a Economia Social em Língua Portuguesa, a partir de Portugal.
Da cidade-berço, o “mestre” Manuel Ferreira resgatou a discussão da importância das régias cooperativas, onde o Estado assume um papel de mais responsabilidade para as respostas sociais espontâneas, propostas pelo movimento cooperativo. Também Francisco Silva, à frente da Árvore Cooperativa de Educação, falou sobre a evolução da Educação Artística, a partir da experiência cooperativa.