Fronteiras Verdes e Fronteiras de Consciência

O Cinema como espelho da crise humanitária em Gaza

O filme “Green Border” (2023), da realizadora polaca Agnieszka Holland, é uma poderosa denúncia cinematográfica da crise migratória na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia. Filmado em preto e branco, o longa-metragem retrata a dura realidade de refugiados sírios, afegãos e africanos que, em 2021, foram usados como peões num jogo geopolítico entre Minsk e Varsóvia. A obra destaca a desumanização dos migrantes, a indiferença institucional e a coragem de ativistas que desafiam a apatia dominante.

Paralelamente, em Gaza, a população palestiniana enfrenta uma catástrofe humanitária. Desde outubro de 2023, mais de 43.700 pessoas perderam a vida devido à ofensiva militar israelita. A destruição de infraestruturas essenciais, como hospitais e escolas, e o bloqueio à ajuda humanitária agravam a situação, levando a ONU a considerar que as ações de Israel apresentam características de genocídio.

A resposta internacional tem sido marcada por divisões. Enquanto a União Europeia forneceu mais de 450 milhões de euros em ajuda humanitária a Gaza desde 2023, países como Espanha apelaram a sanções contra Israel e à suspensão do Acordo de Associação UE-Israel. Entretanto, manifestações em várias capitais europeias exigem um cessar-fogo imediato e denunciam o que consideram ser um genocídio em curso.

O cinema e a cultura desempenham um papel crucial na sensibilização para estas crises. “Green Border” não apenas documenta uma tragédia específica, mas também serve como um espelho das falhas morais e políticas da Europa. Ao humanizar os rostos por trás das estatísticas, o filme convida à reflexão sobre a nossa responsabilidade coletiva perante o sofrimento alheio.

Em tempos de desumanização e indiferença, obras como “Green Border” lembram-nos da importância da empatia e da ação. Elas desafiam-nos a não virar o rosto, a questionar as políticas em vigor e a lutar por um mundo onde a dignidade humana seja respeitada em todas as fronteiras. 

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Raquel Azevedo
* Raquel Azevedo é técnica multimédia, produtora, activista sindical e cinéfila.

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