O poder da Televisão Pública

E uma série inesquecível da RTP2: Downton Abbey

Por Raquel Azevedo *

A RTP2 sempre foi mais do que um canal de televisão — foi uma janela aberta para o mundo, para a cultura, para a beleza de narrativas que ultrapassam fronteiras. Entre as muitas séries que marcaram gerações, nenhuma me ficou tão gravada na memória como Downton Abbey. Não se trata apenas de uma produção britânica de elevada qualidade; trata-se de um convite à reflexão sobre identidade, memória, tradição e mudança.

Num tempo em que os canais generalistas se rendem ao entretenimento rápido e superficial, a RTP2 manteve-se fiel ao seu papel de serviço público, oferecendo ao público português uma série que alia profundidade emocional, rigor histórico e uma realização exemplar. Ver Downton Abbey na RTP2 era mais do que seguir as vidas da família Crawley e dos criados da casa — era uma experiência quase litúrgica, um encontro marcado com o silêncio, com o detalhe, com a beleza.

O que torna esta série inesquecível não é apenas a narrativa, mas o modo como ela espelha as contradições humanas: a luta entre tradição e modernidade, a desigualdade entre classes, o amor e o sacrifício, as guerras que mudaram o mundo. Tudo isto embalado por uma fotografia delicada e interpretações memoráveis.

Hoje, quando volto a pensar na RTP2 e no impacto que esta série teve em mim — e certamente em muitos outros —, percebo que a televisão pública tem um valor que vai muito além da audiência. Ela educa, emociona, desafia. Downton Abbey não foi apenas uma série transmitida num canal secundário; foi um gesto de resistência cultural num tempo de pressa e esquecimento.

Num país onde tantas vezes subestimamos o valor da cultura, a RTP2 relembrou-nos que a televisão pode ser também uma forma de arte. E por isso, esta série permanece — não apenas na memória, mas no coração de quem a viu.