A Fiare Banca Ética apresentou recentemente em Madrid o estudo “Necessidades de financiamento da Economia Social”, que destaca a relevância das Pequenas e Médias Empresas (PYMES, na sigla espanhola) da Economia Social.
Não apenas em volume de negócios e número de empregos, mas também noutros factores-chave da competitividade empresarial, como a internacionalização e a inovação, o relatório pretende refutar assim um estudo do Banco de Espanha, que alude a uma pequena dimensão das PME.
O evento, no Círculo de Bellas Artes, em 17 de Junho, contou com Juan Garibi, diretor da Fiare Banca Ética, representantes da Abay Analistas (consultora que elaborou o estudo), do governo espanhol e de Juan Antonio Pedreño, presidente da Confederação Empresarial Espanhola da Economia Social (CEPES).
Segundo o estudo, baseado numa amostra representativa de PME da Economia Social, 40,4% destas facturaram mais de 1,5 milhões de euros em 2023 (face a 5,6% do conjunto das PME). Metade destas tem 10 ou mais trabalhadores.
Em reportagem da Valor Social, os números demonstram que as PME da Economia Social são muito maiores em dimensão que as demais PME comerciais espanholas, tanto em rendimentos como em número de pessoas empregadas.
Os dados referem-se às PME da chamada Economia Social “de mercado” (que em Espanha inclui cooperativas, mutualidades, sociedades laborais, mas também empresas de inserção profissional, centros especiais de emprego de iniciativa social, associações de pescadores e sociedades de transformação agrária).
Números e Financiamento
Embora a registar crescimento, só em 2023, oito em cada dez PME da Economia Social tiveram necessidades de financiamento, em comparação com 54,2% de todas as PME no seu conjunto. Das que obtiveram financiamento, este destinou-se ao capital de giro (79,7%), seguido de investimento em equipamentos.
Por outro lado, 70,3% das PME da Economia Social com necessidades de financiamento recorreram a financiamento não bancário para as resolver, como subsídios públicos, sobretudo as chamadas PME “não mercantis” (fundações e associações).
Das PME da Economia Social que solicitaram crédito, 95,8% tiveram luz verde, demonstrando assim uma resposta muito positiva da banca. O relatório descreve que, para além do confirming bancário, os recursos de longo prazo mais utilizados foram os subsídios, os empréstimos e o leasing, a exceder os níveis de aprovação das demais PME.
Quanto aos obstáculos à obtenção de recursos externos, estes estiveram relacionados com os mercados financeiros, como o aumento das taxas de juro na zona euro e o próprio custo do financiamento. Também a dificuldade das entidades financeiras compreenderem o seu modelo de negócio foi referenciado por 13,3% das entidades da Economia Social.
Resistência à Banca Ética
Metade das PME da Economia Social demonstraram conhecer as diferenças entre a banca ética e a banca tradicional e os serviços que prestam (32,2%). No entanto, 87% nunca demonstrou interesse efectivo, e apenas 10% são actualmente clientes de serviços bancários éticos. Três em cada quatro PME da Economia Social que são clientes da banca ética destacam a semelhança de valores e princípios e o impacto social como elementos decisivos da escolha.
A Fiare Banca Ética concedeu mais de 59 milhões de euros para financiar projectos de Economia Social em 2023, mais 24% que no ano anterior, revela Juan Garibi, diretor de Desenvolvimento e Estratégia. Ele destacou como ações para facilitar o acesso ao financiamento a adaptação do sistema de pontuação às entidades sociais ou as bonificações de juros.
Durante o evento, Garibi recordou que embora existam muitos recursos públicos disponíveis para entidades da Economia Social (por exemplo, o PERTE, o equivalente espanhol ao PRR) estes devem ser complementados com outros fundos, pelo que o financiamento continua a ser importante.
Banca Ética em Espanha
O banco espanhol Fiare Banca Ética, único banco ético e cooperativo inteiramente dedicado às finanças éticas, teve em 2023 um lucro líquido consolidado de 31,6 milhões de euros (83,7%). Pertence ao grupo italiano Cresud, Banca e Finanza Etica.
Actualmente, os actores da Economia Social em Espanha representam 10% do PIB total, contribuem para 12,5% do emprego e é composto por 43 mil empresas que geram quase 2,2 milhões de empregos. Os princípios partilhados pelas empresas da Economia Social e Finanças Éticas expressam-se na importância às pessoas e da finalidade social sobre o capital.