“Como não podem eliminar a capacidade humana de pensar, obscurecem o mundo real por meio de raciocínios condicionados e enganosos sobre as pessoas e o mundo em geral.”
Paulo Freire
Por José Yorg, o cooperário *
O actual governo argentino posicionou a “batalha cultural” como foco central de suas políticas. De uma perspectiva analítica, essa acção pode ser interpretada como uma estratégia consciente para remodelar o tecido social e cultural do país, alinhando-o aos imperativos do capitalismo financeiro global.

Essa estrutura analítica, que vincula narrativas culturais a políticas económicas, destaca as tensões e polarizações que definem o presente e o futuro da Argentina. No entanto, diante dessa ofensiva, surge a necessidade de questionar e investigar: A reconfiguração cultural argentina: será também um contraponto ao cooperativismo?
O contexto do conflito
A transição global do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro criou a necessidade de adaptar as estruturas sociais a novos modelos de acumulação. Essa análise já foi apresentada por pensadores proeminentes; no entanto, simplesmente enunciá-la nunca será suficiente para despertar os complacentes e apáticos.
Nessa leitura crítica, a “batalha cultural” do governo é percebida como a ferramenta ideológica para deslegitimar a cultura do trabalho industrial e o Estado de bem-estar social, substituindo-os por uma mentalidade individualista que recompensa a especulação e a eficiência de mercado em detrimento da solidariedade e da produção.
As reformas estruturais e a retórica oficial buscam não apenas uma mudança de governo, mas uma mutação antropológica: a criação de um sujeito social desprovido de fortes laços comunitários, um consumidor global mais maleável e previsível. A erosão das identidades locais, o desfinanciamento da cultura, da educação e da ciência, e a desregulamentação económica seriam, nessa linha de pensamento, passos calculados para eliminar as “normas que equilibram as relações desiguais” e facilitar a interferência de interesses estrangeiros.
A abordagem cooperativa como alternativa
Em contraste com a primazia do individualismo e do capital financeiro, a abordagem cooperativa não se esquiva do contraponto já existente, mas apresenta-se como uma alternativa para o desenvolvimento inclusivo e soberano.
Os princípios do cooperativismo (adesão aberta e voluntária, gestão democrática, participação económica dos membros, autonomia e independência, educação e formação, cooperação entre cooperativas e compromisso com a comunidade) opõem-se diretamente à lógica da “batalha cultural” pró-mercado.
Dessa perspectiva, a resposta à ofensiva cultural não deve ser apenas uma “passividade esperançosa e ingénua”, mas sim a construção proativa de um modelo alternativo e cooperativo, fortalecendo a Doutrina Cooperativa a todo custo.
Da competição à solidariedade: o cooperativismo substitui a competição acirrada pela colaboração. Num mundo dominado pela lógica financeira que atomiza as pessoas, as cooperativas demonstram que a associação para resolver necessidades comuns (habitação, trabalho, consumo, saúde) é uma forma de fortalecer o tecido social e económico.
Da especulação à produção: o modelo cooperativo centra-se na economia real, na produção de bens e serviços que satisfazem as necessidades concretas da comunidade. Isto contrasta fortemente com a lógica do capital financeiro, cujo principal objectivo é a rentabilidade abstrata do capital, muitas vezes dissociada da produção material.
Da concentração à democracia económica participativa: enquanto o capitalismo financeiro concentra a riqueza e o poder de decisão em poucas mãos, o cooperativismo distribui a propriedade e democratiza a gestão. Cada membro, um voto, é um princípio que desafia a hierarquia autoritária das corporações e dos interesses particulares.
Uma batalha pela soberania e pelo bem comum
A actual “batalha cultural” na Argentina é, em essência, uma luta para definir a alma da nação. Ela se tornará uma sociedade alinhada à lógica fria do capital financeiro, individualista e globalizada, ou uma comunidade que recupera a força de seus laços de solidariedade e sua capacidade de autogestão?
A abordagem cooperativa não é uma relíquia do passado, mas uma ferramenta para o futuro. Representa uma forma tangível de perseverança cultural e económica, uma demonstração viva de que outro modelo é possível. A verdadeira batalha, sob essa perspectiva, não é aquela que busca impor hegemonia ideológica a partir de uma posição de poder, mas sim aquela travada diariamente em cada empreendimento cooperativo, defendendo a dignidade do trabalho, a força da comunidade e a soberania popular sobre o destino do país.
Em fraternidade, um abraço cooperativo!
* Nota do autor: Este artigo beneficiou-se da ajuda de ferramentas de inteligência artificial para a estruturação e o desenvolvimento de ideias a partir dos pontos de vista do autor.

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