Uma exposição em Espanha relembra a importância das confrarias mutualistas como mecanismo de solidariedade horizontal e organização do mundo do trabalho, quando não havia assistência pública de nenhum tipo.
“Quando as Pessoas se Ajudam. Confrarias Gremiais de Barcelona” é o título da exposição que pode ser visitada gratuitamente até 10 de Setembro no Museu Diocesano de Barcelona, no Palácio da Pia Almoina.
A exposição faz um percurso panorâmico pelas agremiações que existiram na cidade desde a Idade Média até à actualidade, o que pode explicar a luta e formas de organização dos trabalhadores, com base numa solidariedade horizontal e no mutualismo.
Agremiações de Artesãos, sob a tutela da Igreja
A exposição, com curadoria de Albert Domènech, inclui cinco áreas temáticas que abordam este fenómeno, sob os pontos de vista social, político, económico e religioso ou devocional.
Todas as agremiações tinham forçosamente uma correspondente irmandade que apoiava espiritualmente os seus membros, tanto na vida terrena como após a morte. Cada confraria tinha um santo que venerava e uma capela.
Como explica o filólogo Jaume Riera em “L’evolució de Les Confraries Medievales”, as monarquias do Antigo Regime reprimiam qualquer tipo de associação laica e só toleravam aquelas com motivações religiosas.
Modelo mutualista na base da burguesia
Com a atribuição aos governos municipais da regulamentação da produção artesanal por meio das ordens religiosas, os artesãos aproveitaram essa lacuna para se organizarem em sociedades comerciais, para distribuir o trabalho e cuidar de seus interesses.
Em consequência, e como exemplo, muitos dos seus integrantes moravam na mesma rua, que muitas vezes ainda leva o seu nome. É o caso dos Mirallers, Flassaders ou Corders.
Em Barcelona, esses grupos de artesãos e trabalhadores do mesmo ofício tornaram-se mesmo muito poderosos a partir do século XII e participaram activamente do governo local como um contrapoder nos sectores urbanos mais privilegiados. A eles também foi confiada a defesa das muralhas através da milícia urbana da Coronela, como ocorreu durante a Guerra da Sucessão.
Seu papel fundamental na organização da cidade foi perdendo força, primeiro com a ascensão ao trono dos Bourbons e o Decreto de Nueva Planta, e mais tarde no século XIX, desde que as Cortes de Cádiz converteram as confrarias em associações voluntárias, com a ideia de que era preciso estimular a concorrência e o livre comércio.
(Fonte: Museu Diocesano de Barcelona e Ajuntament de Barcelona)