
A criação de um “fundo de intercooperação”, transversal e regional, de cooperativas, e “utilizar uma fatia, mesmo que reduzida, dos excedentes para financiar iniciativas de disseminação cooperativa” foi uma das ideias resultantes do evento de celebração do Dia Internacional das Cooperativas na cidade do Porto, neste sábado 5 de Julho.
O repto foi lançado durante a intervenção de Abel Dantas, da Cooperativa Tecnológica de Viana do Castelo (CTVC) para um atento auditório de cerca de 50 pessoas, todas elas a representar cooperativas desde Trás-os-Montes à Área Metropolitana do Porto.
Para o dirigente desta jovem cooperativa, em actividade desde 2022, “há imensos jovens a criar start-ups e não há consciência de que todos os modelos de negócio tem muitas vantagens de serem criados sob a figura de uma cooperativa”.
Manuel Maio, representante da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (Cases) anunciou uma celebração, em Setembro, do Ano Internacional das Cooperativas (AIC2025) na Assembleia da República.

Em jeito de balanço da representação da Cases no Norte, Maio recordou a importância das cooperativas, que mais do que aos cooperadores, deve “servir toda a sociedade civil que está à volta, que estejam no território”, em resposta aos desafios sociais apontados pelo vereador Fernando Paulo, da Câmara Municipal do Porto, durante a sua saudação às cooperativas.
Saúde e uma nova Habitação Cooperativa
O anfitrião, Paulo Jorge Teixeira, da Cooperativa do Povo Portuense, anunciou por sua vez a criação de um empreendimento de Saúde Luso-Brasileiro, com a participação de cooperativas integradas no Sistema OCB da capital do Brasil e da Região Nordeste.
Os desafios e soluções encontradas pelas cooperativas na área da Saúde foram também trazidos ao debate durante a intervenção de Paulo Silva, da CERCI de São João da Madeira, Fernando Barbosa da Focus e de Dulce Coutinho, da cooperativa Fio de Ariana.
Seja com o estatuto de IPSS ou com a classificação de Solidariedade Social, todas relataram formas autónomas de sustentabilidade e financiamento aos seus projectos, no apoio a pessoas com deficiências e incapacidades, autismo ou nos cuidados com psicopedagogia e terapias.

Paulo Jorge Teixeira defendeu ainda a revitalização das cooperativas de habitação, desta vez voltadas para soluções de arrendamento acessível, uma realidade mais concreta da economia contemporânea.
E para tal convidou a investigadora Fátima Matos, que apresentou um estudo sobre a evolução do cooperativismo de Habitação, desde as soluções deste direito constitucional alcançado na altura do 25 de Abril, até as perspectivas futuras, com experiências de co-housing, já uma realidade, com base nos modelos de cidades como Barcelona e Amersterdão.
O estudo “Cooperativas de Habitação: O passado e os desafios para o futuro”, que aponta quais os modelos mais eficazes de novas cooperativas, foi solicitado pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) ao Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Centenárias e internacionalização
Fundada em 1892, a Cooperativa União Familiar Operária de Consumo e Produção em Ramalde, carinhosamente conhecida como “Cooperativa de Ramalde”, esteve representada por Manuel Nogueira, que numa apresentação emotiva, conquistou um apoio importante junto à Cases, para os desafios de sustentabilidade desta “centenária”.
Ao assinalar os seus 133 anos de actividades, e ao lado da Povo Portuense com seus 125 anos, a Cooperativa de Ramalde estará na já anunciada terceira edição da Celebração das Cooperativas Centenárias portuguesas.
Para brindar com excelência, Mourão Vieira, da Cooperativa de Olivicultores de Valpaços, recordou o exemplo do sucesso português no mercado internacional, com o azeite Rosmaninho, que desde 2026 vem sendo distinguido como o melhor em sua categoria, o que valeu à cooperativa um investimento europeu de 847 mil euros.
Mourão Vieira considera que “o cooperativismo foi fundamental para desenvolver a agricultura” em Trás-os-Montes. A cooperativa tem hoje mais de 2200 associados, entre os concelhos transmontanos de Valpaços, Mirandela e Vinhais produzindo uma média anual de 2 milhões de litros de azeite, cujos lagares foram considerados um dos Top 10 do mundo.
Houve ainda tempo para que os presentes interagissem em contactos intercooperativos e experiências em rede, durante um Porto de Honra.
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