O Brasil tem capacidade para faturar 1 trilhão de reais (cerca de 190 biliões de euros, segundo valores desta semana do Banco de Portugal) com a reciclagem de resíduos e chegar a 30 milhões de cooperados até 2027, afirmou o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas.
O número representa o dobro do valor facturado em 2021, de 525 bilhões de reais (98,2 mil milhões de euros). Segundo o mais recente Anuário da OCB, de 2022, o país tem 4.880 cooperativas, das quais 2.535 estão no mercado há mais de 20 anos, e 18,9 milhões de cooperados.
De acordo com o estudo, o sector emprega 493 mil pessoas. A força do cooperativismo brasileiro é uma das conquistas para celebrar o Dia Internacional da Reciclagem, assinalado em 17 de Maio.
A reciclagem é um dos sete “Rs”
da Economia Circular (Repensar,
Recusar, Reduzir, Reaproveitar,
Reutilizar, Reciclar e Recuperar).
Outro estudo estatístico, o “Panorama dos Resíduos Sólidos”, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), aponta que o Brasil produziu 27,7 milhões de toneladas de resíduos recicláveis em 2021, principalmente plásticos, papel cartão, vidros, metais e embalagens multicamadas.
No entanto, pouco mais de um quarto das cidades brasileiras, 27% ou cerca de 1,5 mil municípios, sequer contam com coleta selectiva, com impacto na destinação final dos resíduos e a extracção de recursos naturais.
Onde entra o Cooperativismo
Instituído oficialmente no ano passado, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares) apresenta metas ambiciosas para os próximos 20 anos. A proposta é reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos por dia até 2040, quase metade do que é gerado no país, com reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética.
Isso envolve um grande processo de mobilização social e empresarial. O anuário da OCB mostra que hoje o cooperativismo é representado majoritariamente pela participação de pessoas físicas, 87%, diante de apenas 13% de empresas.
O anuário da OCB aponta que, apenas em 2021, as cooperativas de reciclagem injetaram mais de 17 biliões de reais (3,2 mil milhões de euros) em tributos nos cofres públicos e foram responsáveis por outros 18 biliões de reais (3,3 mil milhões de euros) entrarem na economia, valores referentes ao pagamento de salários e outros benefícios destinados aos trabalhadores.
O coordenador pedagógico do Movimento Circular e doutor em Educação e Sustentabilidade, Edson Grandisoli, diz que uma das principais conquistas a serem celebradas no Dia da Reciclagem deste ano é o aumento sensível do envolvimento de pessoas, empresas e governos com a reciclagem. “O número de cooperativas tem crescido e, cada vez mais, elas desempenham papéis fundamentais nas áreas ambiental, de saúde pública, economia e inclusão”, afirma.

Para Grandisoli ainda há muito a ser feito, uma vez que uma porcentagem ainda muito pequena dos resíduos sólidos é efetivamente reciclada. Segundo a Abrelpe, o índice de reciclagem nacional é de apenas 4%, abaixo de países com grau de desenvolvimento económico similar, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem, conforme a International Solid Waste Association (ISWA). Na Alemanha, o índice de reciclagem chega a 67%.
Valorização social
O director da Cooperativa de Coleta Seletiva da Capela do Socorro (Coopercaps), Telines Basilio do Nascimento Júnior, avalia que o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para tornar a reciclagem inclusiva e socialmente bem-sucedida.
Carioca diz que um sistema eficiente de reciclagem passa pela inclusão socioeconómica dos trabalhadores, valorização profissional, direito a trabalho digno, moradia, saúde e educação. Ele comenta que as mulheres representam quase 70% da mão de obra do sector e precisam ter direito a creche.
De acordo com o diretor da Coopercaps, há perspectivas de melhoria no setor com os decretos 11.413, que institui o certificado de “crédito logística reversa”, o certificado de estruturação e o certificado de crédito de massa futura.
Também o decreto 11.414, que recria o Programa Pró-Catador, e cria o comité interministerial para inclusão socioeconómica de catadores e catadoras. “Esperamos que, na prática, essas ações sejam tão boas e efetivas como na teoria”, alerta.
Segundo Nascimento Jr., o Brasil ainda conta com cerca de 2,3 mil aterros de resíduo a céu aberto, que precisam ser fechados, com a inclusão e reintegração dos catadores e catadoras que trabalham nesses locais. Ele alega que a reciclagem no Brasil não vai conseguir aumentar os índices se não houver planeamento em curto, médio e longo prazo.
(Fonte: Sistema OCB e Mundo Coop)