Por Inês Moreira dos Santos *
Mesmo em 2025, há uma lista invisível que dita o que uma mulher deve ser. Não está escrita em lado nenhum (claro, somos todos pela igualdade – cof, cof), mas atravessa séculos e sobrevive em gestos, olhares e expectativas. É uma lista de exigências disfarçadas de elogio, de tradições mascaradas de bom senso. Espera-se que a mulher seja tudo ao mesmo tempo: competente, mas não demasiado ambiciosa; bonita, mas sem se exibir; independente, mas disponível; firme, mas meiga.

A mulher ideal continua a ser um equilíbrio impossível entre opostos. É suposto trabalhar como se não tivesse filhos e cuidar dos filhos como se não tivesse trabalho. É suposto envelhecer com graça – essa palavra dócil que significa “sem incomodar”. É suposto estar sempre bem apresentada, mas sem parecer vaidosa. É suposto saber cuidar de todos e, ainda assim, não esquecer de cuidar de si. E ainda por cima suportar piropos, e assédio e não sei que mais.
Quando alguma dessas tarefas falha, e é inevitável que falhe, afinal a super mulher é fictícia, vem o julgamento. A mulher que prioriza a carreira é fria. A que dedica o tempo à casa é antiquada. A que se divorcia é egoísta. A que não quer filhos é estranha. A que os tem e se cansa é ingrata. Nenhuma escolha é suficientemente certa, porque o erro está no simples facto de escolher.
Nas redes sociais, a vigilância é mais implacável. Cada corpo é avaliado, cada opinião é examinada. A exigência de perfeição tornou-se pública e constante. Até o feminismo, quando chega aos discursos de marca ou às campanhas publicitárias, é muitas vezes transformado num produto higienizado: um símbolo bonito, mas sem substância.
Talvez o que deveríamos esperar de uma mulher fosse apenas isto: liberdade. Liberdade para ser quem é, sem pedir licença. Liberdade para errar, mudar, envelhecer, recusar ou sonhar. Liberdade para existir fora dos rótulos, sem ter de provar nada a ninguém. Esperar menos das mulheres – menos perfeição, menos sacrifício, menos obediência – seria, paradoxalmente, o gesto mais justo para que possam ter mais: mais tempo, mais voz, mais paz. O resto são expectativas velhas, disfarçadas de progresso.

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