Confesso, estou cansado do que acontece neste lado do Atlântico que também fala português. Bem, na política: tudo repetitivo por aqui e toda a semana a mesma surpresa quando eclode algum caso de corrupção que, sem surpresa, atinge e enlameia todos os poderes – do Executivo passando pelo Legislativo e descambando no Judiciário.
Mas, antes, devemos dizê-lo: não há uma semana desde que Michel Temer assumiu definitivamente o governo que não tenhamos alguma chamada no noticiário dando conta de algum desmando, desvio ou mal-feito de seus asseclas.
Não surpreende, claro…
Porém, esperava-se que dada a comoção daqueles milhares que foram às ruas trajando as cores da Confederação Brasileira de Futebol e levando patos infláveis para protestar contra a eleita Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores, que pelo menos esperassem um pouco…
Não esperararam. Afinal, esperar para quê? Em seis meses o governo de Michel Temer conseguiu perder seis ministros afastados por casos relacionados à corrupção ou por afinidade a corruptos.
No caso recente, o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero (PSDB), derrubou um dos principais articuladores de Temer, o secretário de governo Geddel Vieira de Lima. Não é pouco e não foi por pouco, mas por algo que deu um banho de lama no presidente e demais assessores Geddel, como se soube, tentava derrubar um parecer de um órgão governamental e ligado ao Ministério da Cultura que lida com a preservação de sítios históricos: o secretário de Temer era dono de um apartamento em um edifício cuja obra foi embargada devido a um parecer do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Geddel tentou fazer com que Calero obrigasse a diretora do IPHAN Nacional a rever tal posicionamento e, para tanto, trouxe o presidente da República para a berlinda.
Temer, segundo Calero em depoimento à Polícia Federal, intercedeu para que o Ministério da Cultura agisse para que o IPHAN pudesse rever seu parecer. Assim, o presidente da República do Brasil interviu em uma decisão pública visando beneficiar interesses privados de um de seus assessores próximos.
O caso que vinha se arrastando há pouco mais de uma semana terminou no colo do presidente Michel Temer dando mais fôlego aqueles que, como eu, acreditam que este é um governo de corruptos, por corruptos e para corruptos. Um colo que abriga com conforto e proteção aqueles que acusavam Dilma Rousseff e o PT. O governo Temer tem-se notabilizado como um governo de corruptos maiores.
Mas, digamos, o que esperar de um governante que sabe “tratar com bandidos”? A expertise, como nós brasileiros temos observado, tem sido demonstrada ao longo dos meses. Governar com e para corruptos é uma atividade complexa, claro…
Alexandre Honório da Silveira é Doutor em Comunicação, Pesquisador e Jornalista. Estuda #JornalismoExpandido, #MediaEcology, #HQs, #MediaFandom e #TransmediaStoytelling…