Nascido há 154 anos, em Santiago de Cendufe, Arcos de Valdevez, a 9 de
Dezembro de 1868, Manuel António Gomes, foi um sacerdote católico, formado
no Seminário Conciliar de Braga. Nasce no seio de uma família de lavradores
pobres e faz os estudos elementares, entre os 7 e os 11 anos, na aldeia do Souto.
Durante o seminário modifica o seu nome de baptismo, acrescentando-lhe
Himalaya (MAG Himalaya), alcunha devida à sua elevada estatura. Inicia as
suas investigações solares no Colégio da Formiga, em Ermesinde, até se tornar
padre, em 1891.

Nascido há 154 anos, em Santiago de Cendufe, Arcos de Valdevez, a 9 de
Dezembro de 1868, Manuel António Gomes, foi um sacerdote católico, formado no Seminário Conciliar de Braga. Nasce no seio de uma família de lavradores pobres e faz os estudos elementares, entre os 7 e os 11 anos, na aldeia do Souto.
Durante o seminário modifica o seu nome de baptismo, acrescentando-lhe Himalaya (MAG Himalaya), alcunha devida à sua elevada estatura. Inicia as suas investigações solares no Colégio da Formiga, em Ermesinde, até se tornar padre, em 1891.
Após a ordenação, ruma a Coimbra, para frequentar o curso de Matemática, tornando-se capelão no Colégio dos Órfãos e posteriormente vice-reitor. Mas não chega a concretizar esta vontade, pois em 1892 decide demitir-se solidariamente com o reitor, na altura acusado de usar violência nos castigos aplicados a alguns órfãos. Escreve artigos para o jornal “A Palavra”, exprimindo a sua ligação à doutrina social da Igreja, exposta pelo papa Leão XIII. Entre 1892 e 1897 terá visitado o continente africano como missionário, onde contrai malária, razão pela qual utilizou uma cura pela água, nas termas de Bad Worishoffen, na Alemanha. A partir de 1893 inicia um percurso pelo centro e sul do País, recolhendo exemplares da flora portuguesa, dedicando-se ao estudo das plantas e da agricultura em geral, provavelmente influenciado pelas doutrinas de Sebastian Kneipp, director da estação hidrotermal de Bad Worishoffen e adepto da fitoterapia. Virá a ser o anotador da 3ª edição do livro “Tratamento pela Água” de Kneipp, reeditado em 1896.
É neste ano que aceita o lugar de professor no Colégio da Visitação, no Porto, estudando, nos tempos livres, ciências e botânica médica. Fabrica, a partir de plantas medicinais, elixires, pomadas e chás que oferece aos familiares e amigos, assim com às populações mais pobres. Ao mesmo tempo, dirige as obras de ampliação do Colégio e dedica-se à radiestesia, conseguindo descobrir água nos terrenos da Instituição. É encarregue das obras de construção da ala norte do novo edifício, anexo ao Colégio. Foi, provavelmente, o autor do projecto de uma parte da estrutura metálica da obra, assim como da estrutura da capela. Este facto pode estar na origem do seu contacto com a Fábrica de Massarelos, vanguardista na tecnologia europeia no domínio da metalo-mecânica e fundições. Deste contacto poderão ter surgido os seus conhecimentos sobre fornos.

O seu percurso no futuro, estará sempre orientado para a produção de uma nova alternativa tecnológica, baseada na organização territorial e social e assente em energias renováveis.
O gosto pela ciência e pelas viagens
O seu espírito curioso e inquisitivo, leva-o naturalmente a viajar. Viveu na Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos e Argentina. Não pretendia apenas viajar, mas também alargar conhecimentos e conseguir apoio financeiro e institucional para os seus projectos. Antes de se mudar para Paris, em 1899, viveu no Porto onde trabalhou como Professor de Física e Química. Os seus interesses, leituras e textos, versavam sobre áreas tão diversas como Ecologia, Educação, Filosofia, Religião e Economia. Em 1908, num Congresso realizado em Viseu, MAG Himalaya centrou a sua intervenção na fraca produtividade do país, um tema ainda hoje muitíssimo actual.
Em Março de 1901 viaja até Londres, constituindo uma sociedade para explorar um aparelho óptico para utilizar o calor do sol nas artes metalúrgicas, químicas e outros ramos da indústria. MAG Himalaya cede à sociedade a sua invenção e as patentes já registadas em França, Espanha e Bélgica, comprometendo-se a prosseguir o seu trabalho e a realizar todos os aperfeiçoamentos necessários. Regressa a França, onde executa um protótipo-miniatura experimental e prossegue os seus contactos nos meios universitários e científicos. Em Setembro desloca-se para Lisboa, reformula e simplifica os projectos de construção, para que os aparelhos fossem construídos em Portugal e com custos reduzidos.
O Forno Solar Himalaya: o Pirelióforo
Em Abril de 1902, é feita, na Tapada da Ajuda, a primeira demonstração pública do funcionamento do chamado Pirelióforo, uma estrutura composta por espelhos para reflectir a luz num único ponto, com o propósito de fundir materiais. O significado etimológico do termo vem do grego “eu trago o fogo do Sol”. Trata-se de um forno solar capaz de atingir altas temperaturas. Contudo, esta primeira experiência não resulta, por existirem erros na construção da máquina, que condicionaram o foco de luz, que, por sair distorcido, viria a derreter o seu próprio suporte.
Desalentado, mas com o firme objectivo de construir um aparelho que possibilite a geração de temperaturas na ordem dos 6000 a 7000 graus (tarefa impossível de acordo com as leis da termodinâmica), MAG Himalaya regressa a França, onde constrói nova máquina, mais aperfeiçoada. As experiências para a construção da primeira máquina solar decorreram em Neully sur Seine. A segunda terá sido montada no Verão de 1900, em Sorède, uma pequena aldeia de montanha dos Pirenéus Orientais, junto à fronteira espanhola, a partir de peças mandadas construir em Paris. Um segundo modelo é montado a cerca de 5 Km da aldeia, numa colina junto às ruínas da Ermida de Castel d’Ultrera. Sobre uma plataforma de pedra e areia são assentes carris circulares, sobre os quais deslizava a estrutura de suporte, que podia ser orientada de acordo com a posição solar. A campânula, em forma de calote esférica, com centenas de espelhos, estava suspensa na estrutura por dois eixos, que permitiam a orientação vertical pretendida, em que os reflectores eram apontados para o sol, fazendo incidir o ponto focal na boca do pequeno forno refractário.
Sempre à procura de apoios, vai conseguir um que se revela primordial, a ida à Exposição Universal de St. Louis (EUA), em Abril de 1904. O invento, pela sua imponência (80 m2 de superfície reflectora) e novidade tecnológica, exerceu enorme atracção sobre os visitantes e a demonstração do seu funcionamento é feita com êxito. Consegue gerar temperaturas entre os três e os quatro mil graus, derretendo todos os materiais colocados sob o foco de luz, sendo premiado com o “Grand Prize da Louisiana Purchase Exposition”. A revista Scientific American publica um artigo intitulado “A Solar Reducing Furnace”, o qual vem credibilizar este invento junto da comunidade técnico-científica. Aos vencedores premiados foi proporcionada uma viagem de estudo por vários locais dos Estados Unidos. MAG Himalaya aproveita para estabelecer contactos e relações de amizade que lhe foram valiosas em anos futuros.
Com o forno solar, o Padre Himalaya pretendia obter azotatos da atmosfera e com eles produzir fertilizantes para a agricultura.
O cidadão pioneiro
Todavia, Himalaya estava avançado no tempo. As forças económicas da época não se mostraram particularmente interessadas no aproveitamento da energia solar, estando mais empenhadas na exploração petrolífera. Na verdade, as tentativas de utilização das energias renováveis não são tão recentes quanto possa parecer. Daí o pioneirismo do Padre Himalaya, que, no início do século XX, defendia que um país poderia desenvolver-se pelo aproveitamento das suas forças naturais.
A 5 de Outubro de 1910 é implantada a República. MAG Himalaya parece totalmente à vontade no novo regime. Vai apresentar uma proposta para a nova bandeira, de cores vermelha e verde, onde o emblema assenta sobre um sol radiante com quatro feixes de raios alongados, de forma a se assemelharem à cruz de Cristo, exprimindo simbolicamente a expansão da nacionalidade. A sua sugestão para a criação da nova moeda portuguesa, dividida em parcelas decimais de um tostão, apresentada em Julho de 1909, é aceite pela República, através da implantação do escudo.
Faleceu em 21 de Dezembro de 1933, vítima de mielite. Na opinião do académico e investigador Jacinto Rodrigues, biógrafo do Padre Himalaya, “O enigma de M.A.G. Himalaya foi o facto de se ter preocupado com a energia solar e ser simultaneamente inventor de explosivos e ter vivido, muitas vezes, quase à margem da Igreja, sem nunca ter abandonado as suas convicções espirituais… O Padre Himalaya é um personagem que incomoda e fascina. É um enigma e um mito”.