Por Luís Carvalho *
Nota do editor: Este artigo foi originalmente redigido em Dezembro de 2020. Por uma indesculpável razão é publicado hoje, a reparar o lapso temporal. Portanto, neste ano em que celebra-se o 48.º ano da morte do poeta Alfredo Guisado, fazemos jus à efeméride assinalada, esta sim, a tempo e horas, pelas palavras de Luís Carvalho.
Passou há dias o 45 aniversário da sua morte.
Não focaremos aqui a sua obra literária ou o seu papel como um dos fundadores do grupo Orfeu, ao lado de vultos como Fernando Pessoa e José Almada Negreiros.
Não esquecemos que este filho de imigrantes galegos, nascido em Lisboa (em 1891), é um importante elo de ligação cultural entre Portugal e a Galiza. E que ele se salientou como ativista político, deputado e autarca durante a 1ª República, que foi depois um destacado resistente antifascista e chegou a ser preso político.
Sublinhamos que, além de tudo isso, Alfredo Guisado também deu um relevante contributo em prol da economia social. Quer pelas responsabilidades que assumiu em diversas associações, quer pela ideias que defendeu.
Foi presidente de assembleia geral de duas grandes instituições do associativismo e da economia social em Portugal: a Sociedade de Instrução e Beneficência A Voz do Operário e a Associação de Socorros Mútuos dos Empregados no Comércio de Lisboa.
Alfredo Guisado propôs um conjunto de orientações para uma intervenção coletiva na economia não apenas a nível estatal mas também municipal e cooperativo
Presidiu ainda a vários centros escolares republicanos e à Sociedade Portuguesa de Escritores (encerrada pela ditadura em 1965).
Entre 1954 e 1971, Alfredo Guisado foi o diretor-adjunto do jornal diário que neste país mais dava voz a instituições de economia social como associações e cooperativas, no contexto ditatorial da época: o República. Aí esteve ao lado de figuras como Jaime Carvalhão Duarte (diretor) e Artur Inês (chefe de redação).
Refira-se ainda que chegou a ser eleito como um dos responsáveis pela Caixa de Previdência dos Jornalistas.
Das ideias que defendeu em matéria de economia social, salienta-se o programa que Alfredo Guisado apresentou em 1923, quando era presidente da Federação das Juntas de Freguesia de Portugal (antepassada da atual ANAFRE).
Atente-se ao contexto histórico dessa altura, ainda de uma profunda crise social no rescaldo da 1ª Guerra Mundial, com uma grande carestia de vida e falhas no abastecimento de géneros alimentares e outros bens essenciais.
Para fazer face a tal crise, Alfredo Guisado propôs um conjunto de orientações para uma intervenção coletiva na economia não apenas a nível estatal mas também municipal e cooperativo.
Advogou por exemplo que passasse a ser assegurado por serviços públicos municipalizados o abastecimento das populações em bens essenciais como água, gás, eletricidade, pão, peixe, carne e transportes públicos.
E, além de defender de uma forma geral que se facilitasse a ação das cooperativas, propôs uma reforma agrária em que os terrenos incultos deviam ser tomados aos proprietários e distribuídos aos sindicatos de trabalhadores rurais. [A Capital, 28/03/1923, p.1]
Passados 45 anos da sua morte, Alfredo Guisado merece ser recordado, lido e ouvido.
Partilhamos alguns exemplos:
a) uma entrevista que deu à RTP, em 1973, aqui.
b) os sonetos que publicou na revista Orfeu, em 1915, aqui.
c) um artigo em defesa da cultura galega que publicou na revista Seara Nova, em 1922, aqui.
* Luis Carvalho é investigador do Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto.