Existe uma percepção pública, em geral, sobre o sector cooperativo que não se coaduna com a real importância do cooperativismo agrícola para a alimentação, nem sequer com o seu importante impacto em zonas mais vulneráveis e onde a sua existência assume uma extrema relevância na coesão territorial, ambiental e social.
O sector cooperativo do ramo agrícola tem um papel fundamental na concentração da oferta, planeamento da produção, orientação para o mercado e valorização da produção, bem desempenhadas por algumas delas e por organizações e agrupamentos de produtores reconhecidas ao abrigo da legislação comunitária e nacional.
As quotas de mercado das cooperativas, segundo um estudo publicado pela Universidade Católica Portuguesa, são muito significativas nalguns sectores, como azeite, vinho, frutas e o leite. O que demonstra a importância do sector cooperativo para o complexo agroalimentar em Portugal.
Contudo, com o arrastar do tempo e perante as novas realidades globais, as exigências impostas ao sector são diferentes e a necessidade de adaptação tem de ser rápida.
A pequena dimensão e reduzida capacidade de concentrar a produção, conjuntamente com as novas práticas comerciais decorrentes da abertura global dos mercados modernos tem sido um constante desafio ao sector.
Já ao nível da União Europeia, onde segundo dados do Comité des Organisations Professionnelles Agricoles-Comité général de la Coopération Agricole de l’Union Européenne (COGECA), as cooperativas agrícolas representam uma quota de 60%, o sector cooperativo tem vindo a crescer e a reestruturar toda a sua organização, através de um conjunto de políticas públicas que têm permitido a adaptação das entidades às novas exigências do mercado, socioeconómicas e ambientais.
A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri), aproveitando a proximidade da entrada em vigor do PEPAC 2023-2027, considerou o actual momento como uma oportunidade única de se avançar para a criação de medidas específicas com objetivo de reestruturar e redimensionar as cooperativas agrícolas, que permitam melhorar a concentração da oferta, comercialização e escoamento da produção nacional.
Isto, ao mesmo tempo que se propõe a tornar o sector cooperativo como uma via útil à fixação de jovens no interior, através da sua capacitação para a gestão dos sectores agrícolas cooperativos.
Esse desafio foi lançado ao Governo, através do Ministério da Agricultura e Alimentação, que o aceitou, determinando a criação de um grupo trabalho “Cooperativas 20/30”, que deverá produzir um relatório com medidas específicas de apoio à reestruturação, redimensionamento, capacitação institucional e competitividade, devendo apresentar o documento até 30 de junho de 2023.
É com esta base de partida e com os instrumentos resultantes do documento a produzir que a Confagri, conjuntamente com o sector cooperativo agrícola, pode, não só inverter a percepção pública sobre a importância fulcral destas entidades para o desenvolvimento agroalimentar, mas também para o combate à desertificação e o abandono rural.
Este caminho de fortalecimento do sector tem de ser construído com serenidade e ação, sempre em prol do meio rural.
(Fonte: Nuno Serra, Secretário-Geral Adjunto da Confagri, com edição de Marcelo de Andrade)