O exercício de votar e não aclamar (Parte 3)

Por Eduardo Hector Fontenla *

Democracia degradada

Considero que a implementação abusiva do “voto por aclamação” ou “cantado” automático de voto está a enfraquecer a legitimidade da liderança, limitando a expressão e retirando o interesse do associado em participar, tanto para integrar os conselhos de administração ou gestores, sindicatos ou supervisão, como para a participação nas assembleias.

Embora não seja novidade, também percebi que em algumas ocasiões o voto expresso foi inventado, encorajado e acelerado pelo anúncio “…está pronto ou o barbecue está a arder…”.

Desmotivação e indiferença que geram distância por falta de participação activa que naturalmente afasta os associados das suas responsabilidades para com a organização de que fazem parte e proprietários, levando a uma fraqueza chamada “crise de representação”.

Como uma personalização de posições em detrimento de cooperativas e mútuas. Fraqueza que deixa perguntas, arrependimentos ou frases reveladoras “…porque vim aqui?”, “…não ouso dizer o que penso…”, “…não ouso dizer o que penso…”, “…voto à mão…”. “auto-censura e pessimismo que se entende como os acordos de uns poucos.Em relação ao tema da participação, participei em assembleias muito formais de cooperativas com uma grande dimensão empresarial, onde me impressionou o facto de nenhum membro se ter pronunciado sobre questões discutidas na assembleia com debates simplificados. A única pergunta feita pelo presidente depois de o ponto ter sido relatado foi “está aprovado?” e sem um “sim aprovado”, com um alto “sim aprovado”, passaram para o próximo ponto da ordem do dia.

A votação por aclamação é prejudicial?

Votar por aclamação” esvazia a democracia
e distorce o seu significado.

A digitalização anterior deixa silenciadas as vozes de muitos membros, concentra o poder e tende a dar lugar a uma certa liderança consanguínea fechada e interessada na continuidade com reeleições indefinidas por aclamação de auto-perpetuação nos seus cargos, pondo um travão a possíveis mudanças nos conselhos de administração ou gestores, sindicatos ou órgãos de supervisão.

Sobre a questão das reeleições, os critérios políticos de se agarrar ao cargo e não ver a sensação de deixar o poder ou o valor da alternância são copiados. Isto vai contra a distância ideal de intervenção na actividade de liderança.

A falta de deliberação e o facto de os mesmos líderes estarem entrincheirados nas suas posições durante tantos anos seguidos significa que começam a agir como se fossem os proprietários das organizações, conduzindo a lideranças hereditárias. Tais casos hereditários são raros, mas existem na Argentina.

Democracia alargada

Nas democracias, a alternância de liderança é saudável e a autocracia é o oposto. Sobre este aspecto recordamos o economista John Maynard Keynes que acreditava que “os funcionários públicos e os políticos, tipicamente homens mais velhos, eram dominados pelos seus acontecimentos imediatos e davam pouco espaço a novas ideias”. (Arana Mariano. Keynes y la política económica nacional, Página 12, suplemento cash n° 1654, 06-02-22, página 8).

Isto é mau para a verdadeira democracia e o número de membros que votam nas assembleias estagnará ou diminuirá se este método de eleição continuar, o que dificulta especialmente a participação dos jovens e das mulheres.

Porque não satisfaz os desejos e expectativas dos membros. Realidade e dados que são expressos no balanço social e que devemos analisar.

Votar por aclamação” não é compatível com o espírito de valores e princípios cooperativos e mútuos, porque corrói ou cansa a democracia, força o consenso e aumenta a probabilidade de se cometerem erros.

Está também frequentemente ligado ao voto programado como instrumento para ganhar vantagem nas eleições para os detentores do poder.

À pergunta colocada, defendo que a prática de “votar por aclamação” é prejudicial e gera descontentamento nas eleições de liderança. Trata-se de ser, não de fingir ser democrático.

Nota do editor: No próximo artigo, o autor conclui com os tópicos
“Maior compromisso com a democracia”, “Regressão democrática”, “Outra escola de pensamento” e “Não fugir à urna de voto”.

* Eduardo Héctor Fontenla é licenciado em Cooperativismo e Mutualismo pela Universidad del Museo Social Argentino e em Ciência Política e Governo pela Universidad Nacional de Lanús. Após um extenso percurso internacional em Desenvolvimento e Cooperativismo, o docente argentino é hoje uma referência incontornável na América Latina.

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Conteúdos apurados pela Redacção do Diário 560, com auxílio de colaboradores.

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