
Vanda Azuaga *
Apesar de ser uma pessoa pouco voltada para as tecnologias, habituei-me a andar quase sempre sem dinheiro e a usar o telemóvel e o computador para fazer a generalidade de operações bancárias. Tenho instaladas no meu telemóvel as aplicações do BCP e da Caixa, o MBway e o Paypal, que uso com alguma regularidade.
Eu estou a trabalhar em Cabo Verde, na capital, a cidade da Praia, ilha de Santiago. Cheguei cá em outubro e como qualquer imigrante, tratei de arranjar casa, legalizar-me e abrir uma conta no banco onde pudesse receber o meu salário. Os “filmes” da legalização ficarão para outra vez, agora a estória é outra.
O meu senhorio é cabo-verdiano, mas tem conta em Portugal. Como eu também ainda não tinha conta cá, nem dinheiro suficiente, fiquei agradada quando ele me propôs transferir o valor da renda para a conta portuguesa. Toda lampeirinha (sim, eu sou nortenha e uso destas expressões!), vou para o computador e tento transferir a partir da minha conta do BCP. Pois… mas não deu! Este banco não faz operações para todos os países e Cabo Verde era um dos comtemplados. Em tempos de globalização, foi, para mim, completamente estranha esta situação. Felizmente tenho outra conta. E vai de entrar no site da CGD online. Tudo a correr bem até que me pedem as coordenadas duma matriz que não tenho. Vou explicar-me melhor: há dois anos, quando fui trabalhar para Maputo, levei comigo o tal papelinho da matriz da CGD, que se tirava de uma ATM que fosse mesmo desse banco. Para não se estragar, resolvi plastificá-la, sem imaginar que, quando precisei de a usar, ia encontrar um papel em branco! Tanto cuidado e afinal a cola do plástico comia a tinta toda.
Estimado cliente, blá, blá, mais “obrigada por aguardar”, mais um minuto por favor…
Aprendi a lição e antes de vir para Cabo Verde e quando fui à ATM pedir nova matriz, a máquina apenas me deu a possibilidade de associar o meu número de telemóvel para confirmar as transações. Olha que bem, modernizaram-se, pensei. Já não é preciso andar com o papelucho atrás como se fossem os talões de descontos dos supermercados! Lá introduzi o número do telefone e toda satisfeita, vim-me embora. Percebem agora qual o meu espanto quando me pedem a tal matriz para pagar a renda. Fiquei fula! E vai daí, liguei para a linha de apoio do banco a ver se me resolviam o problema pois tinha duas contas, ambas com dinheiro, e estava na iminência de não poder usar nenhuma delas. Estimado cliente, blá, blá, mais “obrigada por aguardar”, mais um minuto por favor… até que acabei por desligar e resolvi reclamar por escrito. Tiveste resposta? Nem eu! E ainda por cima a chamada ficou por trinta e poucos euros, conforme a fatura da operadora, no mês seguinte. Valeu-me o meu primo, fez a transferência e eu transferi para ele, a partir da conta do BCP.

“Quem tem amigos não morre na cadeia” – obrigada Toni! Resolvida a situação, dou por mim a pensar nas dificuldades que aparecem quando menos esperamos e que, apesar de terem solução, são pauzinhos na engrenagem. À distância fica tudo muito mais difícil de resolver. Mesmo quando me refiro a distâncias curtas. Aqui, só para dar mais um exemplo, tenho de caminhar cerca de vinte e cinco minutos para poder aceder a um multibanco!
Nas férias do Natal, fui à terrinha e fui à Caixa. O funcionário ouviu o meu discurso indignado e providenciou a tal matriz, desta vez um cartãozinho em plástico, não sem antes me dizer “A senhora já devia saber que já há muito que a matriz deixou de ser em papel”. Culpa minha, portanto. Continuam diligentemente a debitar-me 5 euros e pico de despesas de manutenção. Culpa minha, novamente, por não ter (ainda) fechado a conta.
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