Dona Esmeralda: A esperança na Associação de Moradores do Bairro de Aldoar

Por Inês Soares/Diário 560

Começou por ser apenas uma Comissão de Festas. Mais tarde, passou a Comissão de Moradores e em 2001, surge a Associação de Moradores do Bairro de Aldoar. Desde 1987, é dirigida por Esmeralda Mateus, a presidente que já perdeu a conta dos mandatos que é eleita.

É inevitável que a história da Associação não passe também pela história de Esmeralda. “A minha política é a pobreza. Eu sou uma mulher do povo”. É assim que se define a mulher que luta diariamente pelos moradores do bairro de Aldoar. Deixou o trabalho no peixe para lutar pelas mulheres, sobretudo. Foi a primeira mulher a ser presidente numa Associação de Moradores, e, num ambiente bairrista como o de Aldoar, as reações não foram muito amistosas. A revolta da vida levou-a a lutar pelos direitos de quem mais precisa, sendo aí que encontra a força para, até aos dias de hoje, estar à frente da associação.

Esmeralda Mateus a mostrar fotografias de um dos cortejos.

Como presidente, a sua principal preocupação é garantir que a ajuda chega onde é necessária. Luta por aqueles que não têm tantas possibilidades, no que lhe é possível, fazendo planos de pagamento de água e luz e enviando cartas à Câmara em busca de pequenos apoios. Foi
responsável, em nome da Associação, por pedir computadores para que as crianças pudessem estudar e fazer os trabalhos de casa durante a pandemia, quando as escolas estavam encerradas. Fez diariamente companhia aos idosos, que moram sozinhos, durante a quarentena. “O café da associação estava fechado, mas vínhamos para uma sala e eu lia-lhes as histórias das crianças e ria-me aqui com eles”, salienta Esmeralda.

Arranja, ainda, trabalho comunitário numa horta da Câmara, para que muitos não vão presos ou não tenham que pagar multas. Ainda assim, garante não sentir o reconhecimento do apoio que dá por toda a gente do bairro. “O bairro está dividido em duas partes: do bloco 7 para cima é Esmeralda, do bloco 7 para baixo é aquela da associação”, acrescenta.

Distribui roupa e dá comida aqueles que sabe que necessitam. “Quem precisa aqui é quem trabalha, porque ganha pouco e esse dinheiro nem sempre está garantido. Passam por aqui para vir buscar a marmita e a sopa. Essa gente é que precisa”, explica.

Desde que preside a Associação de Moradores garante ver várias diferenças no bairro. Toma nota das avarias e problemas e arranja forma de encontrar soluções. Afirma já ser normal que as pessoas recorram a si quando precisam de alguma coisa.

Mensagem escrita numa das salas da Associação, em homenagem à presidente.

Sempre que outros bairros ou associações fazem o convite para algum tipo de atividade, a Associação de Moradores do Bairro de Aldoar garante presença. Fora isso, fazem atividades como corridas para assinalar datas temáticas, como o 25 de abril ou pequenas festas para celebrar o Dia da Mulher, por exemplo, com os moradores do bairro.

Organizam um magusto e as sardinhadas de São João, que por culpa da pandemia, estarão suspensas pela terceira vez. Planeiam várias atividades com as crianças, como torneios de futebol e, anualmente, participam no cortejo de São Bartolomeu. Esmeralda preocupa-se com o seu povo. Um dos muitos exemplos dessa sua qualidade, destacou-se quando juntou um grupo de mulheres e juntas foram completar o 9º ano de escolaridade.

Quer que o bairro melhore, sobretudo pelas crianças e pelos idosos, que não têm a vigilância necessária.

Com a promessa de não baixar os braços enquanto tiver meios para apoiar todos aqueles que necessitam da sua ajuda, a presidente da Associação de Moradores do Bairro de Aldoar, desabafa querer duas coisas na vida: “Tudo e nada. Que tudo seja feliz e que nada nos falte.”

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Ines Soares
Aluna de Ciências da Comunicação na Universidade Fernando Pessoa.