Cooperativas argentinas têm “muitas dúvidas” se movimento de transformação social será respeitado

Representantes do Cooperativismo argentino hesitantes e reticentes sobre o futuro político do país.

A Confederação Intercooperativa Agropecuária (Coninagro) emitiu um comunicado depois do anúncio de que o candidato Javier Milei é o presidente eleito da Argentina. Em um texto contido, publicado no seu site, a Coninagro pede a Milei “tranquilidade para continuar produzindo e assim gerar a confiança que todos precisamos para realizar o dia a dia e o trabalho”.

A representante das cooperativas do agro afirmou que as suas cooperativas esperam “fortalecer a unidade, a busca acelerada de consensos”, e alude a uma reforma tributária, regulamentações simplificadas, incentivos e investimentos na produção agrícola.

Tecnicoop endurece
No entanto, os principais representantes da Tecnicoop, o presidente Roque Arguello e José Yorg, falaram frontalmente sobre o novo governo ultraliberal. “Como cooperadores”, disse Arguello, “respeitamos a vontade manifestada nas urnas, porém, temos muitas dúvidas se respeitarão o cooperativismo nobre como movimento de transformação social”.

José Yorg e Roque Arguello

Seu colega José Yorg acrescentou que “o sector cooperativo nada tem a ver com a dívida externa, nem um centavo dessa dívida odiosa vem do cooperativismo e desta forma não pode ser responsabilizado, pelo contrário, a dívida interna da Argentina é grande com o cooperativismo”.

Os cooperadores vão além, e recordam o discurso da mesma Coninagro em 1981, quando o presidente era o general Leopoldo Gautieri, no qual a mensagem do Cooperativismo ao novo governo militar se definia como “uma experiência social que não se presta à confusão; que não se confunde nem se deixa confundir”.

Arguello e Yorg, em declarações ao Opinión Ciudadana logo de seguida ao resultado nas urnas, complementam a citação da Coninagro: “O cooperativismo argentino é uma realidade nacional. É uma reserva moral da República, e as suas conquistas – sobretudo as dificuldades – são um espelho do espírito de solidariedade que reside na nossa sociedade.”

Cooperar e FACE cautelosos
Já a Confederação Cooperativa da República Argentina (Cooperar), que representa mais de 70 entidades através de seu presidente Ariel Guarco (também à frente da ACI), emitiu um comunicado de felicitação, no qual afirma estar “esperando que os resultados da gestão que se inicia resultem num maior bem-estar para todos os habitantes”.

A Federação das Cooperativas de Energia Elétrica e Outros Serviços Públicos (FACE), por sua vez, emitiu um comunicado na manhã da terça-feira, onde destaca a importância de trabalhar para “o desenvolvimento e crescimento do trabalho cooperativo”, segundo a agência Ansol.

Depois de um dia de incertezas, fonte da FACE admitiu à Ansol: “enfrentamos bem o momento, sem problemas, vamos ver o que eles querem fazer”.

Recorde-se que o cooperativismo na Argentina, embora sólido e politicamente influente, está historicamente relacionado com o Peronismo do pós segunda guerra, e com a expansão do papel dos trabalhadores no processo político do país.

Até ao fecho desta edição, o Instituto Nacional de Associativismo e Economia Social (INAES) ainda não havia se pronunciado. (Fonte: Ansol, Opinión Ciudadana e Cooperar)

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Marcelo de Andrade
Editor do Diário 560. Jornalista e Fotojornalista há 35 anos.