Por José Yorg, o cooperário
“Tomemos as posições sociais avançadas, aquelas que impulsionam a mudança e a partir daí façamos o cooperativismo sem fronteiras e de mãos estendidas. O que não nos é permitido fazer na era actual é permanecer neutros, porque a grande missão do cooperativismo nas nossas nações é a transformação social e económica.”
Carlos Mário Londoño
Esta análise sucinta e algumas reflexões surgem do hábito de procurar trabalhos publicados na internet, que possam ser interessantes. Neste caso encontramos um artigo apresentado na V Conferência de Sociologia da UNLP, por Cecilia Magnano, Cristina Etchegorry e Andrés Matta, denominado “Cooperativas… funcionam cooperativamente?”, de 2008. Texto da Faculdade de Letras e Ciências da Educação (FaHCE) pela Universidade Nacional de La Plata (Argentina).
A nosso ver, o trabalho colocado em foco constitui – sem dúvida – uma formidável ferramenta para refletir, para debater, especialmente o movimento cooperativo, imerso num contexto marcado por políticas públicas agressivas ao povo. Constitui material valioso para o tão adiado debate cooperativo, especialmente sobre a questão política cooperativa, da construção do poder político cooperativo para alcançar um certo impacto nos governos.
Nesta breve reflexão encontramos uma obra que nos convida a pensar desde o título até ao fim, o que é muito instigante e um desafio para pensar esta questão que necessita urgentemente de ser revista nas cooperativas: Funcionam cooperativamente?
Agora… O que queremos dizer com funcionar cooperativamente?
A este respeito, dizem-nos os autores do trabalho em estudo: “A análise centrou-se principalmente nos factores sócio-organizacionais das cooperativas que caracterizam a dinâmica institucional no quadro dos valores e princípios cooperativos. A construção dos dados foi realizada por meio de entrevistas em profundidade e pesquisas com cooperados e não cooperados das cooperativas realizadas no final de 2007, as quais foram processadas pela técnica de Análise de Redes Sociais (ARS). Esta metodologia permitiu identificar e analisar as relações (laços) entre os parceiros e a estrutura gerada por essas relações.”
Ilustram-nos que “Sem negar a existência de formas associativas genuínas, o contexto social onde estão inseridas é caracterizado pela fragmentação, pelo individualismo e pela “desertificação organizacional”. Após 30 anos de políticas neoliberais, o tecido social mostra a ruptura das redes de segurança (Feijoo, 2001). O desmantelamento do mercado de trabalho, as políticas de bem-estar e o clientelismo, o enfraquecimento dos sistemas públicos de educação e saúde, entre outros fenómenos, deixaram um clima de incerteza e desconfiança, com poucas possibilidades de projetos de longo prazo e de coordenação coletiva.”
Na parte “Considerações Finais”, dizem que “a análise que foi delineada permite algumas considerações sobre as dificuldades das cooperativas estudadas em funcionar cooperativamente”.
Alegam que “esta obra permitiria avançar no sentido de que o mero registo jurídico ou a dinâmica associativa prévia não é condição suficiente para garantir o pleno funcionamento associativo das cooperativas de trabalho”.
Na nossa opinião, de facto, existem muitos e variados factores confluentes que dificultam ou conspiram directamente contra o funcionamento cooperativo. O contexto é um ambiente de leis de funcionamento das sociedades influenciadas e cultivadas pelo capitalismo, o que significa que o cooperativismo “rema” contra a corrente dessas realidades, já que, pela sua projeção social e histórica, visa transformar e reformar o contexto socioeconómico capitalista, por meio das suas práticas.
O capitalismo como sistema dominante, mais cedo ou mais tarde, ataca a solidariedade ou os laços fraternos que existem nas sociedades, certamente marcadas pelo individualismo e pela competição que se infiltra nas cooperativas.
J.Y.
O Estado é um establishment capitalista
O agravamento de políticas públicas ultraneoliberais e fascistas torna o cooperativismo extremamente difícil, para as próprias cooperativas e para a sociedade em que operam, porque o Estado é um estabelecimento capitalista e privilegia os seus interesses.
Mas ressaltemos também que certos e determinados dirigentes cooperativos não estão à altura das exigências e desafios que hoje se apresentam às cooperativas. Já o dissemos várias vezes, há administradores, gestores, dirigentes, mas não há dirigentes cooperativos que avancem em conformidade para a ciência política de definição de tácticas e estratégias de gestão e administração com uma forte marca política cooperativa.
Ou seja, não vemos formações sistémicas de liderança como exigidas pela realidade de um movimento social e a partir deste, como disse um certo intelectual, “pensar globalmente e agir localmente” com maior impacto, como é necessário para se firmar na opinião pública, segundo um movimento transformador que representa a superação do capitalismo como organização civilizacional.
Esta circunstância, esta ausência de uma liderança forte, priva o cooperativismo da sua presença e posicionamento perante os poderes constituídos e então não há iniciativas e incidências. E é hora de trazer Londoño de volta a esta questão: “O Movimento Cooperativo com toda a força e amplitude de um movimento social com massas, cabeças, doutrina, engrenagens, espírito, consciência e planeamento concertado e científico. Pensar em outra coisa é criar folclore, com passinhos, emblemas e frases prontas.”
Em fraternidade, um abraço cooperativo!
Nota do editor: Nesta sugestão do autor, um video onde o cooperativista Rolando Rodríguez Falla, da Guatemala, recorda a importância de um “Comité de Educação” (2:02), a par da conhecida estrutura clássica mínima de uma cooperativa, com Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal.
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