O segundo dia da Cimeira Internacional Cooperativa de Língua Portuguesa no Porto (CICLP) foi dedicado às apresentações técnicas dos participantes, nos mais diversos ramos de actividade cooperativa.
Na sessão plenária para apresentação dos parceiros cooperativos do Brasil, o parlamentar estadual George Soares, do Rio Grande do Norte (RN), apresentou o trabalho da Frente Parlamentar Cooperativa, que desde 2015, com oito representantes, defende os interesses do Cooperativismo naquele estado brasileiro.
Com cerca de 130 cooperativas que envolve 70 mil cooperados, o estado tem uma Política de Apoio ao Cooperativismo que garante, desde 2022, incentivos financeiros, económicos e fiscais para a criação e fortalecimento do sistema cooperativo (Lei nº 11.159).
Já Roberto Coelho, presidente da OCB/RN defendeu que, no “caso das Cooperativas de Crédito, é preciso fortalecer as cooperativas e não os Bancos Cooperativos”. O representante estava a discursar sobre os programas da Agência Internacional de Promoção e Defesa da Economia Social (AIPDES), que inclui representações da CPLP.
Dentre estes programas encontram-se as Cooperativas de Saúde, de Energia, de Financiamento de produtos e serviços, a Rede Cooperativa de correspondente bancário e negocial, a Central de Comercialização e a Rede de Garantia das operações das Cooperativas (GarantiCoop);
Vários representantes brasileiros expuseram ao pormenor os seus trabalhos em curso. Eduardo Cabral, da SaúdeCoop falou sobre o produto TerSaúde, app em telemóvel para agendamento de consultas médicas para os cooperados.
Geraldo Filho, também parlamentar e representante da Sinmed-RN recordou que o país tem uma longa história nas cooperativas de Saúde, e que o Sistema Único de Saúde (SUS, equivalente ao SNS) “é um sistema misto”, onde se inserem as parcerias com as cooperativas de Saúde.
Este ramo está agora a apostar na CoopBrasil, que é uma cooperativa de Trabalho, não apenas de saúde, mas que permite a todos os profissionais envolvidos (de médicos a auxiliares de saúde) oferecer os seus serviços através das cooperativas.
Larissa Queiroz, à frente do Hospital Maternidade Almeida Castro, com sede na cidade de Mossoró (RN), apresentou a recuperação por meio cooperativo da instituição, que hoje oferece novas valências e ampliou a capacidade para atender cerca de 900 mil habitantes em vários outros municípios, em parceria com a OCB/RN. Ela confirma que “o SUS tem limitações de ordem financeira, e aqui entra os protocolos com soluções cooperativas”.
Oriundo da área tecnológica, Rilton Campos pormenorizou o funcionamento do produto TerSaúde, aplicação em telemóvel para agendamento de consultas médicas para os cooperados. Ele afirmou a solução é uma alternativa para os utentes que tem tido dificuldades em cumprir com os planos privados de saúde (uma preferência no país). É uma app gratuita e pode ser acedida de qualquer sítio do mundo.
“os profissionais perceberam que eram os donos da cooperativa”
Alexandre Gomes, da CoopEdu
Alexandre Gomes, da CoopEdu orgulhou-se em afirmar que o sucesso desta jovem iniciativa na área da Educação tornou-se visível quando os profissionais se aperceberam que “os cooperadores eram os donos da cooperativa”. O envolvimento se solidificou com a formação interna contínua.
Apesar do percurso ainda curto (foi criada em 2019), a CoopEdu consegue agora estar presente em 49 cidades e até mesmo foi construido o Colégio Monte, voltado para alunos do Ensino Médio e sob uma óptica de ensino em cooperação.
O diretor da CoopeFarma, Arlindo Barbosa de Araújo, também integrada ao sistema OCB/RN, lembrou que esta é a primeira cooperativa de farmácias do Brasil, estão hoje federados com a Febrafar, e que desenvolveram um cartão de cliente que facilita o acesso dos cooperados não apenas aos serviços da rede de farmácias, como também descontos em outros serviços.
Dentre as cooperativas de Serviços, José Edgar Jr. falou sobre a CoopAgro, que presta serviços no meio do agronegócio a mais de 400 cooperados. Afirma que, no estado do RN, a cooperativa têm a maior taxa de crescimento, em comparação aos outros ramos cooperativos.
Roniere Lima descreveu cada um muitos serviços de transporte de origem cooperativa: taxis, transporte coletivo alternativo, transporte escolar, entregas de produtos e ainda transporte rodoviário de camionagem.
Pedro Ximenes, à frente do Institute of Business (IOB) em Timor Leste, deu a conhecer aos participantes desta primeira CICLP das actividades em Educação, à partir de Díli. Filho do histórico criador da Fundação Klibur Mata Dalan, tem assegurado a vinda a Portugal de alunos timorenses do Ensino Profissional à EPA (Mirandela), IPB (Bragança), dentre outros.
Para o próximo período lectivo, já conta com 74 novos alunos para este intercâmbio, ao nível do IOB, que promove também programas de mestrado e doutoramento. Dentro do próprio país, no Ensino Secundário, a escola técnica ETI tem formado profissionais em Informática, Comércio, Construção Civil, Turismo e Hotelaria.
Eliza Monteiro, da Cooperativa de Mulheres do Sal, em Cabo Verde, afirmou que está a ter uma verdadeira “aula-magna” durante esta Cimeira, tamanha a “troca e intercâmbio de conhecimentos”. A cooperativa, dedicada à capacitação e empoderamento das mulheres caboverdeanas para o empreendedorismo, promove a formação e a promoção do próprio artesanato local, destinado aos turistas.
Há um segmento de criação de incubadoras de empresas, com formação em Gestão e Educação Financeira. Tem vindo a apostar na tecnologia hidropónica na Agricultura, devido à escassez de água em alguma das ilhas do arquipélago. As actividades estão integradas numa vertente ecológica, através da “CoopAmbiente”, que promove a substituição do plástico, no suporte ao artesanato.
Para Adulai Ly, da Associação de Salvamento Aquático da Guiné Bissau, o trabalho que desenvolvem de formação de nadadores salvadores para atender as 88 ilhas, mais a costa continental, poderá evoluir para uma solução cooperativa. Já há planos para, nos próximos meses, criar a CoopSalva, e dar um salto no trabalho que já realizam em “desenvolvimento aquático e humanitário”. “Há muitas associações, mas o conceito de cooperativa ainda é algo muito abstrato na Guiné Bissau”.
De São Tomé e Príncipe, o executivo da Cooperativa de Exportação de Cacau de Qualidade (CECAQ-11), Adalberto Luís trouxe muitos dados estatísticos sobre o crescimento da actividade da cooperativa nos últimos 13 anos de trabalho. Com todas as certificações internacionais em mercado justo, produto biológico e o reconhecimento do Estado como origem biológica, a CECAQ-11 consegue se orientar para nichos de mercado com clientes europeus, como Alemanha, Bélgica, dentre outros.
O dia foi coroado com um jantar no restaurante Portucale, com vista panorâmica da Cidade do Porto, no Complexo IntraCooperativo da Cooperativa dos Pedreiros Portuenses, e ainda o concerto dos Pé na Terra.
O dia seguinte é dedicado a encontros e reuniões temáticas bilaterais, entre as cooperativas participantes, para aprofundar experiências, no sentido de estabelecer protocolos de negócios. Ainda visitas a Cooperativas em Braga e Moimenta da Beira estão previstas.
