As celebrações do 5 de Oububro, desde a fundação do Reino até a República, com o apoio dos anarquistas

Hoje, 5 de Outubro, celebra-se a implantação da República Portuguesa. Mas desde a criação do Reino de Portugal, esta data é simbólica.

O primeiro 5 de Outubro

Portugal foi fundado em 5 de Outubro de 1143, ano da celebração do Tratado de Zamora. O Tratado, assinado entre D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, e o seu primo Afonso VII de Leão e Castela, reconhece o estatuto jurídico de Portugal como reino independente.

Pelos termos do tratado, Afonso VII concordou em que o Condado Portucalense passasse a ser reino, tendo D. Afonso Henriques como o seu rei.

Com as fronteiras definidas, Portugal começou a olhar para dentro. Em finais do séc. XIII o rei D. Dinis criou a prestigiada Universidade de Coimbra, uma das mais antigas da Europa.

Em 1385, na sequência de um movimento popular, D. João I foi aclamado rei, iniciando-se a segunda dinastia. Os filhos de D. João I e de D. Filipa de Lencastre seriam apelidados de “Os Lusíadas”, na obra de Luiz Vaz de Camões.

De entre eles, um ficou conhecido para a História como visionário e principal obreiro dos Descobrimentos, o Infante D. Henrique, fazendo uso dos melhores conhecimentos científicos e práticos da altura.

Em 1498 Vasco da Gama explorou o caminho marítimo para a Índia, e em 1500 Pedro Álvares Cabral tomou posse do Brasil. Os portugueses chegariam ainda a Oman (1508), à Malásia (1511), a Timor (1512), à China (1513) e ao Japão (1543).

O pequeno reino era agora o maior império do mundo. Em Portugal juntavam-se sábios e mercenários, cientistas e pintores, comerciantes e poetas, escravos e príncipes.

Mas tal poder e riqueza culminaram na trágica morte do jovem rei D. Sebastião, numa batalha em Alcácer Quibir, no Norte de África.

O trono então vago foi ocupado pela dinastia espanhola dos Filipes, que juntaram os dois Estados durante 60 anos de união pessoal. Em 1640 Portugal voltou a ter um rei português, D. João IV, que restaurou a independência.

Um novo 5 de Outubro

As ideias republicanas começaram a ganhar cada vez mais força a partir dos finais do séc. XIX. E no seguimento do regicídio de D. Carlos em 1908, e da revolução de 5 de outubro de 1910, a República acabou por ser instaurada.

D. Manuel II foi o último rei de Portugal e Teófilo Braga o primeiro chefe de Estado republicano, na qualidade de presidente do Governo provisório. Manuel de Arriaga foi o primeiro presidente eleito da República Portuguesa.

A visão Anarco-Sindicalista, por Júlio Carrapato

“O 5 de Outubro de 1910 ilustra perfeitamente a dinâmica das revoluções só aparentemente triunfantes: uma classe social de nível intermédio (burguesia ou pequena burguesia republicana) salta para as costas de outra classe social (a besta de carga trabalhadora), a fim de desalojar a classe dominante (a aristocracia, a alta burguesia e o alto clero) do controlo da mega-máquina do Estado e ocupar o seu lugar.”

Greve Geral em Lisboa, 1912.

“Enquanto uns deram o corpo ao manifesto (as classes trabalhadoras dinamizadas pelos anarquistas intervencionistas), a burguesia republicana, sempre aproveitadora e muito poupadinha, tirou as castanhas do lume.”

“O que houve depois da refrega foi uma mudança apenas nominal, a qual consistiu no baptismo das mesmas coisas com outros nomes. Só assim se podia manter o “essencial” para os poderosos.”

“Mais uma vez, os chefes e pastores do gado humano tinham deixado que este procedesse à demolição do indispensável, ou não tinham podido de todo evitá-lo, para passarem depois eles a ser os reconstrutores do novo-velho edifício social”.

Uma ditadura de 50 anos e uma “revolução” rumo ao futuro

Depois de um período conturbado e da participação portuguesa na 1.ª Guerra Mundial, deu-se a 28 de maio de 1926 um golpe militar que pôs fim à Primeira República. Iniciou-se então um período de ditadura militar, quando foi instaurado o Estado Novo, regime autoritário e de partido único dominado por António Oliveira Salazar.

A 25 de abril de 1974 a “Revolução dos Cravos” devolveu a liberdade e a democracia aos portugueses, rapidamente reconhecendo a independência das antigas colónias em África.

Portugal tornou a virar-se para a Europa. Em 1986 o país aderiu à Comunidade Económica Europeia (CEE) e, desde então, os portugueses têm participado com entusiasmo na construção de uma nova Europa, sem contudo esquecerem a sua História e as suas tradições.

(Fontes: Consulado Português em São Francisco e Júlio Carrapato, na obra “O Regicídio, o 5 de Outubro de 1910, a I República Portuguesa e a intervenção anarquista”, Edições Sotavento)

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Marcelo de Andrade
Editor do Diário 560. Jornalista e Fotojornalista há 35 anos.