Argentina: Ingresso aos BRICS e a extrema direita podem ser oportunidade para o cooperativismo

Nas últimas semanas, tornou-se conhecida a notícia de que a Argentina aderiu ao grupo económico multilateral BRICS+. Também a vitória preliminar da extrema direita rumo às presidenciais tem causado impacto na segunda maior economia da América Latina.

Dois comentadores argentinos do movimento cooperativo no país opinam sobre a entrada ao bloco económico e a possível viragem política à extrema direita.

Para Carlos Mansilla, da Confederação Cooperativa Argentina (Cooperar), o ingresso do país no BRICS+ “é uma notícia muito boa”. Na sua opinião, para o movimento cooperativo, “o multilateralismo nas relações internacionais é a melhor ferramenta para fornecer soluções locais para problemas globais.”

“A verdadeira integração exige integração económica e produtiva, mas também integração cultural e social.
O cooperativismo contribui para isso. Se for ‘com o Estado’, melhor”.

Carlos Mansilla

Uma delegação já prepara-se para visitar a China com representantes de todos os setores cooperativos argentinos e do Instituto Nacional para a Economia Social (INAES), “em busca de mecanismos diretos de integração económica entre os dois países, baseados no movimento cooperativo”, adianta Mansilla.

Márcio Freitas, da OCB, e Carlos Mansilla, da Cooperar (à dir.).

Em seu artigo de opinião na Agência de Notícias Solidárias (Ansol), o secretário de relacões internacionais da Cooperar refere o “recente relacionamento com a Federação Chinesa de Cooperativas de Abastecimento e Comercialização”.

Ainda neste ano, “outra delegação visitará o movimento cooperativo da Índia, com especial interesse na importação e produção na Argentina de fertilizantes”, numa aliança estratégica com uma das mais desenvolvidas cooperativas agrícolas daquele país.

Mansilla vê no entanto com preocupação alguma resistência de sectores políticos, “por ignorância, preconceito, má intenção ou em defesa de interesses económicos”, contra o acordo BRICS+. “O trigo e os queijos cooperativos continuam a viajar do interior da Argentina para os supermercados do Brasil. Enquanto isso, esses políticos olham para o outro lado”, lamenta.

Resgatar o cooperativismo peronista

O respeitado educador social e líder cooperativista José Yorg enxerga com os olhos da resiliência à possível viragem à extrema direita da política argentina, com o candidato “anarco capitalista” Javier Milei. Tão logo conheceu os recentes resultados eleitorais, Yorg publicou algumas considerações no jornal Opinión Ciudadana.

José Yorg.

Para ele, o movimento cooperativista “não compartilha desta opção política porque essas ideias triunfantes são contrárias ao humanismo, ao direito do trabalhador, ao direito do pequeno produtor, à educação e à saúde pública gratuita”.

Yorg destacou enfaticamente que “a mística peronista foi desfigurada ao abandonar seus princípios e objectivos e entrou em uma crise ideológica”, por isso, agora, mais do que nunca, “a cooperação politicamente organizada, o cooperativismo peronista deve ser promovido”.

“O mundo está cansado do perene infortúnio social, e também é difícil admitir que a Argentina, que costumava ser o celeiro do mundo devido à intervenção das cooperativas agrícolas, hoje essa mesma Argentina enfrentará uma incerteza presente e futura”, considera Yorg.

“A benéfica correlação de forças para conseguir uma Argentina melhor reside na vontade cooperativa e fraterna, que são laços de companheirismo, para construí-la cooperativamente sobre as ruínas, é o que deve ser promovido”, concluiu José Yorg.

(Fonte: Ansol e Opinión Ciudadana)

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Marcelo de Andrade
Editor do Diário 560. Jornalista e Fotojornalista há 35 anos.