A rua espaço de todas as lutas

Raquel Azevedo *

Cresci em tempos de liberdade e democracia, não conheci outros tempos ou regimes. Este ano faz 50 anos do 25 de Abril, e toda a história que levou a Revolução dos Cravos.

Com ela veio a democracia, mas não só, o direito à manifestação e greve dos trabalhadores. Esses direitos foram existindo, mas de formas e em contextos diferentes.

Verdade, onde quero chegar e falar é sobre o que é para mim o movimento sindical. Mas não somente, eu falar, mas poder descrever um pouco da minha experiência.

Só quando comecei a trabalhar na Suíça me fui apercebendo da importância dos sindicatos, e do teor do seu trabalho.

Por isso fizemos muitas manifestações, “geração à rasca”, “troika”. E agora, o que nos espera?

Apesar de vir de uma família de sindicalizados e de lutadores pelos direitos laborais, nomeadamente a minha mãe, até esse período não me tinha concedido muita consciência do quão importante são.

Certo que na Suíça os sindicatos funcionam com estruturas diferentes das de cá e de uma boa parte da Europa, pois são menos próximos dos trabalhadores. Têm mais um papel de instituição jurídica e menos reivindicativa.

Mas as dificuldades que passei e as barreiras laborais que atravessei fizeram com que, na minha chegada a Portugal novamente, pensasse que faria todo o sentido estar sindicalizada. Mas não fiquei por aí e tornei-me delegada sindical, pois achei importante vincular-me a esta luta.

Entre estas apareceram outras e diferentes, e percebi também as fragilidades e dificuldades do movimento sindical. Algumas delas, sim? Pois, certamente existem outras que não conheço ou conheci.

Em Portugal, voltamos a viver momentos difíceis, se bem que eu acho que nunca saímos muito destes círculos de crises. Neste caso, na minha geração dos anos 80, acho que nunca saímos. Por isso fizemos muitas manifestações, “geração à rasca”, “troika”. E agora, o que nos espera?

Olhar para o movimento sindical e pensar, o que está em faltar? Será massa humana? Se calhar, dirigentes sindicais, novas gerações. Como fazer? Tivemos e temos muitos professores que em 2023 saíram várias vezes a rua. E outros setores, pontualmente também o fizeram. Mas onde se encontra o movimento social e o movimento sindical? Os direitos laborais transformam-se cada vez mais em algo bem distante. Uma população que vive da precariedade, palavra que assombra gerações; sem segurança do que será o mercado laboral, que em muitos setores está já de portas abertas para a inteligência artificial, como uma ferramenta fundamental. O que poderemos esperar de profissões, que vimos quase toda uma vida, desaparecerem? Que papel tem e deverão ter os sindicatos para garantir a defesa dos direitos dos trabalhadores?

Este é o início de um tema que quero aprofundar com os leitores e receber opiniões. Vou redigir artigos mais específicos sobre diferentes perspectivas dentro do movimento sindical.

Mas, para terminar, acho que devemos guardar a sua importância de ontem, hoje e sempre!

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Raquel Azevedo
* Raquel Azevedo é técnica multimédia, produtora, activista sindical e cinéfila.

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