A Economia Social deixou de ser o parente pobre do mercado e do Estado – Parte 1

O DIÁRIO 560 irá publicar uma série de artigos sobre a Economia Social, a partir de um artigo publicado no portal da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri).

A Economia Social é cada vez mais vista como um método universal de acção inovadora que visa procurar soluções para os problemas sociais através de abordagens não convencionais. Tem vindo a afirmar-se continuamente no desenvolvimento e difusão de novos modelos organizacionais e a emergir como uma forma alternativa de se pensar e reorganizar a economia e a sociedade.

A Economia Social está no mapa-mundi e conta agora com novos apoios institucionais de que são exemplo a Comissão Europeia, a OCDE ou o Fórum Económico Mundial, entre vários outros. O seu papel enquanto parte de um ecossistema, a sua acção enquanto agente de mudança e as parcerias que está a desenvolver com decisores políticos e líderes do sector com fins lucrativos são explorados neste artigo por um conjunto de especialistas na área.

Na Europa, a Economia Social tem sido tradicionalmente vista como uma forma de abordar falhas do mercado ou do Estado, de que são exemplo a exclusão financeira de pessoas que vivem na pobreza ou a ausência de respostas adequadas para os sem-abrigo, por exemplo.

Na prática, durante um longo período de tempo, esta “pré” Economia Social assentou somente na existência de organizações de assistência social, de cooperativas, de sociedades de ajuda mútua (mutualistas), de associações cívicas, entre outras entidades similares. Este tipo de organizações continua a desempenhar um papel importante na prestação de serviços sociais, defendendo os grupos mais vulneráveis da sociedade e contribuindo para a coesão social e para a solidariedade.

No entanto e nas últimas duas décadas, o desenvolvimento e a difusão de novas formas e modelos organizacionais alargaram o conceito e as acções de Economia Social.

Em particular, começou a ser reconhecido o seu papel na promoção de uma transformação “verde” e social que tem as premissas da inclusão, equidade e responsabilidade nos seus princípios fundamentais, os quais devem ser igualmente abraçados para se alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas.

Neste processo, a Economia Social deixou de ser o “parente pobre” do mercado e do Estado e, em vez disso, está a emergir como uma forma alternativa de pensar e organizar a economia e até mesmo a própria sociedade.

De forma não surpreendente, a Economia Social assenta em duas componentes principais: na comunidade que, e segundo o professor da Universidade de Chicago Raghuram Rajan, foi demasiadas vezes deixada para trás pelos mercados e pelo Estado; e na solidariedade, que e nas palavras dos professores do European University Institute, Philipp Genschel e Anton Hemerijck, consiste na “expectativa normativa de apoio mútuo entre os membros de grandes grupos anónimos (a classe, o partido, a nação), que devem partilhar os riscos e os fardos uns dos outros para assegurar os objectivos e a coesão do grupo como um todo”.

Esta alteração da Economia Social pode ser vista em toda a sociedade, mas particularmente no sistema económico global, o qual se encontra numa busca desesperada para se reinventar e abraçar o propósito como a sua força motriz.

Actualmente, por exemplo, as pessoas vêem o empreendedorismo social menos como uma forma organizacional particular e mais como um método universal de acção inovadora que visa procurar soluções para os problemas sociais através de abordagens não convencionais.

Esta metamorfose pode ser igualmente observada nas mudanças céleres e “pró-sociais” dos modelos empresariais que ocorreram em resposta aos desafios provocados pela Covid-19 e na emergência do que alguns chamam de “cooperativismo de plataforma”, que procura combinar elementos de acção baseados em valores, inovação “aberta” e digitalização como forma de dar origens a formas pioneiras de conduzir os negócios.

Sobre os autores:

Gorgi Krlev é investigador sénior no Centro de Investimento Social da Universidade de Heidelberg e professor visitante no Politecnico di Milano. É o co-editor da Social Innovation-Comparative Perspectives (Routledge open access, 2019).

Giulio Pasi trabalha na Comissão Europeia, onde dirige o seu trabalho sobre inovação social, economia social, e o futuro do Estado Providência. Tem um conjunto alargado de publicações nas áreas do investimento para o impacto e da reforma do sector público, bem como no que respeita à engenharia financeira de sistemas de bem-estar e de transformação digital.

Dominika Wruk é professora assistente de Empreendedorismo Sustentável na Universidade de Mannheim. Uma das áreas de investigação em que se concentra é o desenvolvimento de novas formas de organização, a sua distribuição pelos cenáriosorganizacionais, e o seu impacto social, ecológico, e económico.

Marika Bernhard é directora de programação e bolsas no DFL Stiftung, fundadora e presidente da Social Entrepreneurship Baden-Württemberg e uma das fundadoras da Cimeira de Inovação Social.

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Diário 560
Jornal online em Língua Portuguesa especializado em Economia Social.

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