Por Alfredo Soares-Ferreira

Recordamos uma flor sem tempo, porque é mesmo muito tempo, quarenta e oito anos passados, não lembramos o passado, apenas o memoriamos, em nome da Liberdade, apenas o evocamos, porque o tempo de hoje é tão estranho que até parece ser estranho falar da nossa libertação.
Ninguém o deve apropriar, nem aqueles (como nós) que, de certa forma, o fizemos. À nossa maneira resistimos também, tendo sempre no horizonte a queda de um regime bafiento e podre de velho. Nunca esqueceremos que havia pobreza, miséria e degredo. Impossível esquecer a odiosa polícia, que perseguia, torturava e matava quem ousava pensar diferente. Em 1969, um Homem dizia que podia ser duro edificar o Portugal futuro, mas onde proclamava, com palavras de uma beleza imensa, “O Portugal futuro é um país/aonde o puro pássaro é possível…”. Ruy Belo o disse e hoje sabemos que, apesar de todos os tudo, sim, é possível.
Há que tenha morrido. “…sem saber qual a cor da liberdade”, como prenunciava Sena, na noite negra. Ele viveu para ver. Nós também. Nós, que, como o Sérgio, “Viemos com o peso do passado e da semente/Esperar tantos anos, torna tudo mais urgente/E a sede de uma espera só se estanca na torrente” e aqui estamos hoje, quarenta e oito anos depois, resistindo sempre, que a torrente trouxe, entretanto, outros mares casa dentro e uma casa com ondas pode ser coisa perigosa, embora a vida seja água a correr.
Há quem fale alto de mais, pensando que a gritar pode impor a sua. Há quem fale baixinho, com a guitarra a acompanhar. Há quem simplesmente murmure, acreditando ser suficiente. E ainda há quem não fale, por pensar que ninguém lhe ouve a voz. A Liberdade tem muitas cores. Sabemos as diferenças, marcamos o nosso território, por vezes até de forma assertiva. E sabemos que há quem a use, de forma hipócrita e abusiva. Mas, somos Livres!
E dizemos, hoje como antes, 25 DE ABRIL, SEMPRE!
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