Você está sendo manipulado?

Diego Veiga *

Não, este artigo não será uma reflexão profunda sobre a liberdade, mas sim uma análise de como somos constantemente manipulados para o consumo excessivo, adquirindo objetos que na verdade não precisamos.

Há uma história cujo início é amplamente conhecido, mas, infelizmente, o seu desfecho não o é. Thomas Edison, em 1879, inventou a lâmpada elétrica com uma vida útil de aproximadamente 1500 horas. No século XX, a durabilidade chegou a 2500 horas. Após a crise de 29, uma grande depressão econômica, um grupo de empresas formou um cartel e decidiram conjuntamente que iriam diminuir a vida útil das lâmpadas para 1000 horas. Isso foi feito para garantir mais vendas e, claro, manter e aumentar os seus lucros.

Apesar do que possa parecer, o avanço tecnológico não está ligado necessariamente à melhoria dos produtos. Como as empresas não estão sujeitas a regulamentações que efetivamente as impeçam de priorizar o lucro sobre o bem comum, na prática, elas fazem o que desejam.

Este processo tem nome e já é bem conhecido. Obsolescência planejada, isto é, quando uma empresa decide produzir um produto de qualidade inferior para que ele se torne obsoleto mais cedo do que o esperado, aumentando assim suas vendas e lucros.

Você provavelmente já ouviu
falar que, no passado,
os produtos eram mais duráveis.
E sim, isso é verdade.

Mas espere, não é só isso! Ainda existe a obsolescência perceptível, ou seja, nos foi incutido a lógica de termos sempre a necessidade do novo, do moderno, do que é de última geração, mesmo que o que temos supra às nossas necessidades. Isso é facilmente percebido observando a moda. Isso é evidente ao observar a indústria da moda. Todos os anos, surgem novas coleções e padrões de estética aos quais somos instados a nos adaptar, mesmo que nossas roupas ainda estejam em bom estado.

Também há a obsolescência funcional ou técnica. Esse processo envolve desde o desenvolvimento de novas tecnologias mais eficientes, acabando por serem mais desejadas, até a falta de peças de reposição ou o conserto do produto ficar mais caro do que a compra de um novo aparelho.

Estas questões são, em si, algo no mínimo complicado do ponto de vista ético, mas quando somamos o fato de vivermos em um mundo finito, entrando em uma crise climática, utilizar-se do nosso meio, da natureza, sem pensar nas necessidades do todo, visando somente ganhos individuais, já poderia ser avaliado como algo próximo ao criminoso.

Devemos sempre desnaturalizar os processos, perguntar o porquê deles acontecerem de determinada forma, quem ganha e quem perde nestas relações e, o principal, se poderia ser diferente e como podemos construir este diferente. O processo de comercialização não é algo natural, foi inventado. Ele atualmente está estruturado não visando o bem comum, mas o lucro, custe o que custar.

Já possuímos leis que nos asseguram padrões de qualidade para diversas áreas como a da alimentação, com as indicações de prazos de validade e padrões de higiene; a farmacêutica com prazos de validade, indicação de uso, de contraindicações, entre outros; e da engenharia que necessita, por exemplo, de laudos especializados para garantir a segurança das construções. Por que não exigir que as empresas tenham padrões de qualidade em todos os produtos? Proibir a obsolescência programada? Fazer campanhas contra a obsolescência perceptível e funcional?

É preciso ter sempre o entendimento nítido de que existimos em um mundo finito, de que o meio em que vivemos não é feito com recursos naturais, ele é, juntamente conosco, um grande ecossistema vivo e delicado que chamamos de Terra. Perder essa convicção é favorecer o nosso caminhar a passos largos a um verdadeiro suicídio da nossa espécie.

About the Author

Diego Veiga
* Cientista Social, especialista em Economia Solidária e em Gestão de Projetos, educador popular e ativista dos movimentos de Economia Social e Solidária e LGBTQIA+. É Sócio fundador da Portuando - Associação de Apoio ao Imigrante Brasileiro em Portugal.

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