Morabeza: Maio, maduro Maio

Vanda Azuaga *

Na semana passada estive no Maio. É uma ilha pequena, a mais próxima de Santigo e acessível por barco ou avião. Viajei sempre de barco, fica mais barato, demora hora e meia e se o mar não estiver muito bravo consigo fazer uma travessia mais ou menos simpática, sempre recostada e de olhos fechados, abstraindo-me do som e do cheiro daqueles que vão chamando o Gregório, como se diz na minha terra.

Ainda está preservada do turismo de massas – felizmente! Desta vez ia com uma amiga que me veio visitar e fomos dar um passeio de carro, com um guia. Juntaram-se a nós um casal de holandeses o que tornou a vista mais económica e animada: o guia quase não falava inglês e nós tínhamos de fazer de intérpretes. A ilha tem algumas povoações a que se chega por estradinhas empedradas, ainda do tempo colonial. As casinhas baixas e coloridas, a vegetação mirrada do calor, os burros que se abrigam nas parcas sombras e se roçam nas paredes fazem lembrar uma qualquer paisagem mediterrânica. Numa dessas povoações comprámos queijo de cabra – a D. Rosalina gere uma queijaria artesanal e deu-nos a provar um queijinho delicioso. Por 200 escudos cada, algo como dois euros, esgotamos o stock comprando três unidades. Fiquei a saber que o coalho usado não é cardo, como eu julgava, mas estômago de cabrito! Não devia ter perguntado, pensei depois.

Casinhas coloridas.

Tem três centrais de dessalinização de água e em alguns pontos há água no subsolo que ainda vai permitindo alguma agricultura – hortas muito direitinhas, vegetais arrancados à terra com muito trabalho e dedicação. Noutras zonas, apenas o mar dá sustento e os barquinhos alinham-se na praia enquanto não saem para a faina. Vê-se pouca gente na rua, as pessoas resguardam-se do sol, dentro das casas. “Sol de Maio é rixu”, avisou-me a minha senhoria, tens de usar protetor. Na Praiona, há pequenos montes de búzios quebrados. Numa construção inacabada de cimento, quebravam-se as conchas, extraía-se o bicho, lavava-se para depois ser cozinhado ou vendido. Agora, o búzio está a dar noutras praias e aquela foi abandonada.

Há também dunas. Custam a subir e quando chegamos ao cimo o mar ainda está longe. Queimam os pés e as mãos, ao trepar.

As praias são extensas, com águas cristalinas em vários tons de azul, consoante o céu e a maré.

Está-se muito bem no Maio! As pessoas são afáveis, dá vontade de aprender crioulo para conversar, ou pelo menos, meter conversa. Ao fim da tarde, numa esplanada, bebendo um gin, pesquisávamos no google, como o fazer e treinávamos a fala com o Miguel, um empregado muito simpático que se ria da nossa falta de jeito. “modo ki bô txoma?” “Bô conxe Maio?”.

A certa altura, dois casais estrangeiros sentam-se ao nosso lado. Turistas de meia idade pra cima, já reformados, talvez. Miguel sorri-lhes e cumprimenta, com um hello. Leva-lhes a carta, para que escolham e eles discutem o que tomar. O Miguel fala pouco inglês e eles querem cappuccinos e outras coisas que ele não entende. Abana a cabeça e sorri. Não há leite (ka tem) e eles estranham, habituados a ter de tudo na terra da fartura. Ficam chateados e comentam entre si, em tom de voz indignado, voltando a olhar o menu, indecisos.

Eu, que também sou da terra da fartura, mas que já sei o que é viver noutros lugares, sorrio para a minha amiga. E apetecia-me aconselhar a mulher loura da mesa ao lado: Bebe mazé un gin, instead!

E desfruta deste pôr do sol incrível!

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Vanda Azuaga
* Vanda Azuaga é mulher do norte, gosta de escrever e de mexer na terra. Adora colher tangerinas da árvore, tanques de pedra, manhãs de nevoeiro e cheiro a maresia.

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